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Secretário da Fazenda deixa cargo após criticar BC

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Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, Gomes de Almeida afirmou que a valorização cambial é prejudicial ao país e é resultado da política de juros altos

Reuters

BRASÍLIA – O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda deixará o governo, anunciou o ministro Guido Mantega, após a publicação, nesta quarta-feira, de uma entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo na qual Júlio Gomes de Almeida criticou a política de juros do Banco Central e seu efeito sobre o câmbio."Eu acredito que o Banco Central está praticando uma política monetária adequada, correta para o país", afirmou Mantega em entrevista, após anunciar que Gomes de Almeida havia pedido demissão na segunda-feira, dia 2 de abril, "por motivos pessoais".

A vaga de Gomes de Almeida será assumida por Bernard Appy, atual secretário-executivo do ministério. Para o lugar de Appy, irá o ex-ministro da Previdência Social Nelson Machado. Mantega negou que esteja cogitando outras mudanças em sua equipe, mas anunciou que Tarcísio Godoy continuará como secretário interino do Tesouro Nacional.

Ele disse ainda que não cogita trazer para o ministério o atual presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Demian Fiocca, que foi de sua equipe quando esteve à frente do Ministério do Planejamento.

Na entrevista, Gomes de Almeida afirmou que a valorização cambial é prejudicial ao país e é resultado da política de juros altos. Para Mantega, ao conceder a entrevista, Gomes de Almeida já falou, na prática, como alguém fora do governo, uma vez que já apresentara seu pedido de demissão.

Mantega afirmou que o câmbio não passa por uma "sobrevalorização desenfreada" e disse que o país vive "o melhor dos mundos", com inflação baixa, juro em queda e crescimento econômico. "Então eu não posso condenar o Banco Central, que é um dos responsáveis por essa política", disse o ministro.

Ele também disse discordar da avaliação de Gomes de Almeida de que o câmbio valorizado está contribuindo para a desindustrialização no país. O ministro afirmou que a indústria de transformação está indo bem, e destacou os setores automobilístico e de bens de capital.

Perfil

Durou menos de um ano a participação de Gomes de Almeida na equipe de Mantega. Ele começou entusiasmado sua gestão na Secretaria, tentando implementar as idéias que desenvolveu na época em que foi economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Mas saiu demonstrando grande insatisfação com a condução da economia.

"Julinho", como era conhecido, protagonizou polêmicas, sendo a mais famosa delas a declaração, dada em agosto de 2006, de que "nem arriando as calças" seria possível ao governo conceder novas desonerações tributárias naquele ano. A declaração criou um constrangimento com o então ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, que defendia as medidas.

Seu grande foco era o debate macroeconômico. De linha heterodoxa (fez parte da equipe do ex-ministro da Fazenda Dilson Funaro, na época do Plano Cruzado), Almeida discordava da política monetária do Banco Central e defendia redução maior das taxas de juros para reverter a trajetória de valorização do câmbio.

Foi peça-chave na formatação do pacote cambial, lançado em julho de 2006, que permitiu aos exportadores manter parte das receitas fora do País. Teve papel ativo também no pacote para reduzir o de spread bancário, lançado em setembro do ano passado. As duas iniciativas tiveram efeito irrisório.

Seu sucessor, Appy, é um economista de perfil mais ortodoxo e postura bem mais fechada para o debate público, Appy retorna ao cargo que ocupou durante o ano e meio final da gestão Antonio Palocci e vai trabalhar nas reformas institucionais, com a tributária.

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