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RESENDE e o grande golpe do PLANO REAL

Publicado em:

Paulo Henrique Amorim

Máximas e Mínimas 312

. “…(André) continuou tendo participação ativa nas formulações econômicas, em um caso flagrante de ‘inside information’. Aliás, ele era mais do que um insider. Era o economista com dupla militância, ajudando a definir as regras do Real e, depois, operando no mercado em cima dessas margens”. (Pág. 187)

. “… algumas instituições começaram a atuar pesadamente no mercado de câmbio, apostando na apreciação do real… a mais agressiva foi a DTVM Matrix… com capital de R$ 14 milhões passou a ter uma carteira de R$ 500 milhões. Seu principal sócio era André Lara Resende“. (Pág. 197)

. “Para fortalecer a posição dos “vendidos” (como o Matrix de André), nos meses que antecederam a implantação da nova moeda, Winston Fristch reuniu-se reservadamente em São Paulo com instituições financeiras… fornecendo o mapa da mina da apreciação do Real… Um dos presidentes de instituição financeira presente me contou a surpresa deles ao ver um membro do Governo passando o mapa da mina cambial”. (Pág. 198)

. Esses relatos espantosos fazem parte do livro “Os cabeças-de-planilha”, de Luis Nassif, da Editora Ediouro, que acaba de ser lançado.

. Esta é provavelmente a denúncia mais grave já feita sobre as maracutaias na política econômica brasileira.

. Sobre a promiscuidade entre o público e o privado.

. Sobre o que se passa, na verdade, por trás da ciência dos cérebros que oferecem à mídia conservadora e aos bancos as idéias luminosas que deveriam orientar essa infeliz Nação.

. Eles, os sábios. “A Nova Renascença”, como dizia o “Rei Filósofo”, FHC. Eles, os especialistas em “inside information”…

. André Lara Resende foi um dos formuladores e, como demonstra Nassif, o maior beneficiário do Plano Real.

. Não há como atribuir a apreciação do Real, na largada do Plano, a uma barbeiragem, ou a um “erro técnico”, como prova Nassif.

. Está mais parecido com um “business plan”.

. A melhor explicação, como diz Nassif, é que houve um trabalho em cima de “inside information”, em que Resende sabia que o “erro” seria cometido e os gênios do Governo FHC não o corrigiriam.

. Por que não corrigiram?

. Nem FHC, o Farol de Alexandria, que lançava luzes sobre a Antiguidade, sabe explicar.

. A entrevista que FHC deu a Nassif, em fevereiro deste ano, é patética.

. Por três vezes ele diz que não sabia do que acontecia – e não sabia o que acontecia sobre o Plano Real, que mudou a economia, a moeda e o país (para o bem e para o mal…)

. E por cinco vezes ele diz que não foi consultado.

. Não foi consultado sobre questões centrais da reforma do Plano Real.

. É espantoso !!!

. Espantoso também é o que conta Nassif, na Pág. 211: “André Lara Resende via o plano como uma forma de enriquecimento e ascensão social. Depois de enriquecer com o Real, realizou sonhos adolescentes de comprar carros e cavalos de corrida – que transportou de avião para Londres, quando resolveu passar uma temporada por lá”…

. Na época, no mercado financeiro, se dizia que, nessa tacada, André embolsou US$ 500 milhões. 

. Leia a seguir a entrevista que fiz com Nassif, nesta segunda-feira, dia 16. Realizei uma pequena edição, para facilitar a leitura. Portanto, a versão em áudio (clique aqui para ouvir) não é exatamente a mesma da versão em texto, que se segue.

Leia a seguir a entrevista com Luis Nassif sobre o golpe (ou a tacada) do Real:

Paulo Henrique Amorim – Eu vou conversar agora com o meu colega jornalista Luis Nassif, que acaba de lançar o livro “Os Cabeças de Planilha”. Até onde eu entendo, o livro é uma comparação entre a reforma monetária de Rui Barbosa, de 1890, e o Plano Real, de 1993, não é isso?

Luís Nassif – Isso.

Paulo Henrique – São 100 anos de distância entre um e outro, mas muitas similaridades, não é isso?

Nassif – Muitas, muitas.

Paulo Henrique – Eu queria entender o papel do André Lara Resende, um dos economistas mais importantes na formulação do Plano Real. Você na entrevista que deu ao Sergio Lírio, na Carta Capital, diz que o André, ao mesmo tempo foi beneficiário e formulador do Plano Real. Como assim?

Nassif – A gente tem uma discussão que começa em 1993 sobre a troca de moeda. O ponto central tanto do Rui Barbosa quanto do Plano Real é o modo como se troca a moeda. Porque, dependendo do modo, como você define por onde a moeda vai caminhar você define quem vão ser os vitoriosos. E foi definido um modelo de troca de moeda ou de introdução do Real com base na compra de reservas cambiais. Ou seja, só quem tinha dólar podia transformar os dólares em reais. Então, o dinheiro ia pra economia e o Banco Central enxugava aquele dinheiro. Quem tinha acesso a reais e não tinha dólar ficava esmagado. Agora, o ponto central foi que a lógica do Real, por tudo o que se sabia, era, quando a URV virasse Real, era manter a paridade com o dólar. Você se lembra que um dos slogans do Real era “o primeiro plano em que não haveria surpresas”. Tanto que o Rubens Ricupero (Ministro da Fazenda, depois de Fernando Henrique Cardoso), que pega o bonde andando, faz o discurso na véspera da entrada em vigor da nova moeda reiterando que a paridade seria um Real por um dólar. De repente, essa paridade cai para cada dólar valendo 90 centavos de Real, da noite para o dia. Algum tempo depois, para 80 centavos. E você tinha no mercado financeiro um grupo de instituições que apostou numa valorização do Real. Tudo montado ali para ter uma apreciação do Real. Eu investiguei que ordem de equívocos, que razões de ordem teórica, técnica, para explicar essa imprevista apreciação do real. Você vai bater nos estudos que foram feitos antes do Real pela equipe econômica e eles já tinham detectado o risco da apreciação do Real e sugeriam medidas para impedir a apreciação. De repente, a equipe econômica esquece tudo isso e permite a apreciação para 90 centavos, e depois para 80 centavos. Quando chega a 80 centavos chegam a dar declarações de que era preciso cair para 70 centavos de Real. Nesse ambiente é que o André Lara Resende monta o banco Matrix especificamente para se aproveitar daquele momento…

Paulo Henrique – Dessa apreciação do Real…

Nassif – Dessa apreciação e, depois, passar o banco pra frente.

Paulo Henrique – Então, eu te pergunto: o que você está querendo dizer é que o André Lara Resende, que ajudou a formular essa conversão de URV para Real sabia que ia ter uma apreciação e abriu um banco para se beneficiar disso

Nassif – Isso.

Paulo Henrique – É isso?

Nassif – É.

Paulo Henrique – O André Lara Resende …

Nassif – Acho que um pouco mais. Foi cometido um erro, um erro que não tem base na lógica do Plano Real e pessoas – o André foi o que mais se beneficia disso – que participaram da formulação do Plano se beneficiaram disso.

Paulo Henrique – Quer dizer, um erro que o André sabia de antemão que haveria?

Nassif – Isso.

Paulo Henrique – Ele sabia que ia ter esse erro.

Nassif – Sabia que teria erro. Como participante e formulador ele sabia que ia ter esse erro. Ele não considerava um erro.  As pessoas que comentavam na época sabiam que era um erro. Você se lembra que eram apontados como inimigos da pátria.

Paulo Henrique – Claro, o Delfim Netto, por exemplo.

Nassif – Quem denunciava os erros era “lobista da Fiesp”. Eu fiz uma entrevista com o presidente Fernando Henrique que fecha o livro e eu perguntava: “Mas presidente, por que o erro não foi corrigido?”. [Fernando Henrique respondeu:] “Mas não se sabia que havia o erro”. Mas tinha pessoas que alertavam que havia. [Fernando Henrique respondeu:] “Ah, mas essas pessoas criticavam tanto que parecia que era uma crítica sistemática”. Ou seja, eles trataram de anular as críticas e depois disseram que não tomaram decisões porque a maioria da opinião pública não acreditava nas criticas que eles se incumbiram de desmoralizar.

Paulo Henrique – O presidente Fernando Henrique… você perguntou a ele se ele sabia que o André tinha aberto o banco Matrix pra se beneficiar desse erro?

Nassif – Não. Eu não perguntei por que, na época, aí que entra essa questão dos planos econômicos, porque a tendência sempre, devido a um profundo grau de desinformação de grande parte da mídia, partidos políticos e tudo, você aceita tudo o que vem dos grandes planos econômicos, como se tivesse uma racionalidade por trás disso. Na época, não se sabia que era erro. O André, quando montou o banco Matrix, a intenção expressa não era se beneficiar do erro. Mas estava na cara. Em dezembro de 94, inclusive, eu tinha escrito uma coluna onde eu já  tinha intuído que havia, digamos, um modelo de negócios, da maneira como o câmbio foi conduzido,  que era muito louco.

Paulo Henrique – Eu posso dizer, Nassif, que a valorização da moeda brasileira corresponde ao modelo de negócio de um banco brasileiro?

Nassif – Não de um banco, mas de um grupo, porque o que aconteceu ali…

Paulo Henrique – Mas, que outro banco além do Matrix?

Nassif – Houve reuniões alguns meses antes com bancos de investimento onde foi mencionado qual seria a trajetória do câmbio. Tinha uma briga entre os comprados e vendidos em dólar. Os comprados em dólar eram multinacionais ou grandes empresas que queriam se defender contra a desvalorização do câmbio. Na ponta dos vendidos você tinha esses bancos de investimento, que se articularam. E você tinha uma terceira ponta que poderia desequilibrar – eram os bancos comerciais. Ou seja, num determinado momento em que o câmbio estivesse muito apreciado, estes bancos comerciais poderiam pegar linhas comerciais, entrar no mercado e desequilibrar o jogo. Só que estes bancos comerciais são afastados do jogo através de uma regra do pessoal do Banco Central…

Paulo Henrique – Na época era o Pérsio Arida?

Nassif – Não era o Pérsio, não. Foram o Pedro Malan e o Gustavo Franco. No segundo semestre de 94. Eles dizem que o câmbio pode oscilar entre menos 15, mais 15: então, criaram uma insegurança em que o banco comercial não pode entrar. Quem fica no jogo? Os bancos de investimento, pressionando para o lado dos vendidos, a política monetária pressionando para o lado dos vendidos. Agora, a parte mais interessante – foi quando fechou para mim o raciocínio. Eu vinha especulando sobre as razões daquilo em algumas colunas que escrevi na Folha – e comecei a avançar quando saiu o livro da Maria Clara. 

Paulo Henrique – A Maria Clara do Prado, nossa colega no iG?

(“A real história do Real”, Editora Record; clique aqui para visitar o site de Maria Clara do Prado)

Nassif – Isso, isso. Ela participava como assessora, tudo.

Paulo Henrique – Do ministro Malan.

Nassif – Ela levantou os trabalhos feitos antes do Plano, e ali fecha tudo. Todos os desastres que ocorreram, já haviam sido previstos por eles, inclusive com soluções para prevenir os desastres.

Paulo Henrique – E por que não corrigiram, Nassif?

Nassif – Aí que entra a presunção de que havia algo além da teoria na maneira como conduziram o plano.

Paulo Henrique – A sua suspeita é que houve uma condução que beneficiava um modelo de negócios de bancos de investimentos, inclusive o banco do André ?

Nassif – Minha presunção é a seguinte: assim como Rui Barbosa, vamos dar o primeiro lance aqui, e depois vamos corrigir ao longo do tempo. Só que o primeiro lance condiciona os seguintes.

Paulo Henrique – Dava uma tacada e depois arrumava a casa?

Nassif – Isso. Dos dois pontos que saíram da previsão do Plano, o déficit em conta corrente apareceu muito antes do que se esperava, em dezembro. E quando teve o déficit teve uma pressão por desvalorização. Aí, o Edmar Bacha e o Gustavo (Franco) disseram “não, o câmbio tem que ir pra 0,70”. O Pérsio fica escandalizado: “Como, vocês são malucos?”. Isso está no livro da Maria Clara. E depois teve a crise do México. Em dezembro, de 94 a crise do México provocou pequenos movimentos de câmbio aqui que levaram a prejuízos de mais de 100 milhões de dólares para o pessoal que estava na ponta vendida. E teve um seminário lá¡ no Banco Central…

Paulo Henrique – Aí, o André perdeu dinheiro?

Nassif – Não sei. Teve uma leve oscilação ali. Porque o que ocorreu ali foi que teve um seminário no BC do Rio em que o Francisco Gros – olha a coincidência, naquele dia eu tinha escrito sobre a crise mexicana – ele faz uma apresentação em que diz que na avaliação do JP Morgan, onde ele trabalhava, o México era o país de menor risco na América Latina. Provocou uma gargalhada geral. Você ficava sem entender, não era possível ele dizer que o câmbio tinha que ir para 0,70, que o déficit tinha que ser o dobro, que o México era o país com o menor risco… Era muita batatada para um pessoal tão competente, entendeu?

Paulo Henrique – Na verdade, era um “business plan”?

Nassif – A hipótese que deu para fechar ali foi que se deu um primeiro movimento e depois se perdeu o controle. Naquele período eles estavam absolutos no pedaço.

Paulo Henrique – Eles eram os gênios da República, A Nova Renascença, como diz você. Fernando Henrique chamou de A Nova Renascença.

Nassif – Fernando Henrique tinha saído candidato à Presidência, o Ricupero assumiu sem entender as tecnicalidades…

Paulo Henrique – E o Fernando Henrique sabia?

Nassif – Acho que o pecado dele foi lá na frente, na hora de corrigir o erro.

Paulo Henrique – Você entrevistou o FHC. Ele dá a sensação de que sabia, dominava essa questão?

Nassif – Todos os pontos que eu perguntei, que eram pontos centrais desse modelo – compra de reservas cambiais, o fato de você estimular a fuga do grande capital de volta – ele dizia que não tinha sido consultado.

Paulo Henrique – Ele não tinha sido consultado? Ele era consultado para que ?

Nassif – Por exemplo, vamos pegar um ponto grave. Em dezembro ele já eleito, o Serra indicado ministro do Planejamento. Já se sabia que ele e Pérsio queriam mudar o câmbio, inclusive pensam até em pedir ao Itamar Franco para fazer uma desvalorização nos moldes do que o Sarney fez a pedido do Collor. A crise do México atrapalhou. Nos últimos dias do ano o BC faz uma emissão de títulos com clausula cambial. Qual a lógica disso?

Paulo Henrique – E como o Fernando Henrique explica isso?

Nassif – Ele dizia que não tinha sido consultado.

Paulo Henrique – Quer dizer que o BC e o Ministério da Fazenda operavam à  revelia do Presidente?

Nassif – Naquele segundo semestre, o Itamar ainda era o Presidente. Eles pegavam o freio nos dentes. Primeiro, entrou o Ricupero e pegou o bonde andando. Depois entrou o Ciro Gomes, que não entendia também das tecnicalidades, e eles convenceram o Ciro a manipular aquele discurso de que quem era a favor da mudança do cambio era inimigo da pátria. Foi uma violência, você lembra. Aí eu pensava: será que estão fazendo isso para queimar o Serra, que era a favor da mudança ? Mas era muita virulência, ia queimar o Ciro, e ele entrou de cabeça…

Paulo Henrique – Mas peraí­, quando houve a crise do México o Presidente era o Fernando Henrique. 
 
Nassif – Sim, mas a crise começou a dar sinais em novembro, dezembro. Já
tinha todos os sinais de que ia quebrar. Agora, você tem um outro movimento complicado, em março, quando se resolve mudar o câmbio. O Pérsio faz um movimento de mudança do câmbio e o Gustavo dá sinais para o mercado contraditórios e provoca uma fuga de recursos.

Paulo Henrique – Você entrevistou o Gustavo Franco?

Nassif – Eu entrevistei o Gustavo sim…

Paulo Henrique – E ele disse o que dessa sua tese?

Nassif – Que havia um risco de inflação. Quando eu entrevistei ele não tinha saído o livro da Maria Clara.

Paulo Henrique – Você entrevistou o André?

Nassif – Não.

Paulo Henrique – Você tem medo que ele te processe?

Nassif – Os ganhos do Matrix são ganhos públicos, tem balanços, tem tudo aí.

Paulo Henrique – Você conhece, evidentemente, o papel do André. Eu assisti a isso numa solenidade em Toronto, na negociação final da divida externa brasileira, em que o André, ele durante a solenidade, participa da equipe brasileira que assina a renegociação da dívida externa e, a partir de certo ponto, ele se senta na platéia – já tendo comunicado que deixava o governo naquele instante – se senta como banqueiro. Eu estava sentado ao lado de um diretor do Citibank, que me perguntou assim: “você sabe qual dos dois chapéus o André usa? Se o chapéu de autoridade monetária ou o chapéu de banqueiro, como eu?”.

Nassif – Então faltou te entrevistar, Paulo Henrique.

Paulo Henrique – Na dívida externa o André deve ter desempenhado também um duplo papel…

Nassif – Na dívida externa você faz os contatos, você cria um relacionamento amplo. E no começo dos anos 90, já estava claro qual seria o negócio do século para esses bancos de investimento: seria a reciclagem da poupança brasileira que estava lá fora. É a poupança que se manda nos anos 80, desde o início, com o caso Tieppo, depois do bloqueio do Collor, ela vai inteira pra lá. Então, eu diria que a intenção inicial desses bancos era fazer a reciclagem dessa poupança.. Esse foi um grande negócio. Mas, no meio do caminho, de repente, você a tem a chance de ganhar com a apreciação do Real, uma apreciação que ninguém esperava e que compromete todo o restante.

Paulo Henrique – Que faz, inclusive, com que o Brasil tenha essa dívida interna hoje brutal.
 
Paulo Henrique – Agora, uma última pergunta Nassif, qual foi o papel do André na formulação do Plano Real?

Nassif – Ele fez parte do núcleo central. Os caras que tinham melhor estudado o tema eram o Pérsio e o André.

Paulo Henrique – O famoso ensaio “Larida”. André Lara e Pérsio Arida, não ?

Nassif – Isso. Isso. O Gustavo Franco entra no meio do caminho sem ter ainda a cancha dos dois, mas o Gustavo sempre foi o mais organizado, o cara que sistematizava. Mas o André foi fundamental. No começo ele queria que fosse um “currency board”, que nem teve na Argentina de Domingos Cavallo. Agora, o interessante é que quando você pega os estudos prévios, a única coisa que não aparece nesses estudos é o essencial: o modelo da monetização, como vai ser a compra de reservas cambiais. É o que dá a base para você esmagar o setor interno da economia, aquele que não tinha acesso ao dólar. E dá todo o espaço possível ao setor que tinha acesso aos dólares. Quando você pega todos os pontos – como os bancos comerciais são afastados disso, você tem primeira apreciação do câmbio, tem a segunda desvalorização do câmbio. Depois que você chega naquela posição, vê que está tudo arrebentado … não dá para você ficar no mero erro teórico …

Paulo Henrique – Ainda mais com mentes privilegiadas como essas…

Nassif – Paulo, eu sou um jornalista econômico. Em 94 e 95 eu tenho todas as minhas colunas prevendo isso. E eles com o conhecimento deles e tudo mais e todas as ferramentas do Banco Central, todos os números na mão tinham mão previram ? Depois, quando você pega os estudos prévios, estava tudo lá: “pode acontecer isso, isso e aquilo. E pode ameaçar o plano. Então, para isso, isso e aquilo nós vamos tomar essa, essa e essa medida”. E quando você termina o período todo, nenhuma medida foi tomada e todos os pontos que eles apontavam como vulnerabilidade da economia tinham piorado por conta dessa decisão, desse modelo de remonetização da economia.

Paulo Henrique – Quer dizer que o Presidente Fernando Henrique não era consultado?

Nassif – Não, em nada.

Paulo Henrique – Nada?

Nassif – Em nada.

 

 Capa do livro “Os Cabeças-de-Planilha”