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Quitação de dívidas argentina e brasileira causa rombo ao FMI

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Agência EFE

O FMI deixará de embolsar cerca de US$ 1,74 bilhão em juros após a quitação antecipada das dívidas do Brasil e da Argentina com a instituição, que pode ver-se obrigada a aplicar a si mesma a receita de ajuste fiscal que apregoa a seus tradicionais devedores.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) se financia através do rendimento dos empréstimos que estende a países com dificuldades em sua balança de pagamentos.

No entanto, com a decisão de Buenos Aires e Brasília, o FMI perdeu dois de seus três melhores “clientes”, embora ainda lhe reste a Turquia, que deve ao Fundo mais de US$ 14,6 bilhões.

O organismo encarou de forma positiva a amortização antecipada pelo Brasil de um saldo de US$ 15,57 bilhões em dezembro, e pela Argentina de US$ 9,5 bilhões no início deste mês, como um sinal de saúde da conta corrente dos dois países. A decisão, entretanto, criou um problema fiscal à entidade.

O porta-voz do Fundo, Thomas Dawson, fez questão de desmentir hoje qualquer visão de quebra do organismo.

“Não é algo urgente, no sentido de que requeira ações imediatas”, disse o porta-voz, embora tenha reconhecido que o FMI se preocupa com sua situação fiscal a médio prazo.

As receitas do Fundo “dependem muito da situação futura de seu crédito”, alertou um relatório apresentado pela gerência da entidade a seu Conselho Executivo, composto por representantes dos 184 países-membros, e divulgado nesta terça-feira.

Para o ano fiscal de 2006, que se encerrará em 30 de abril, o Fundo prevê um superávit de US$ 305 milhões, mas estes resultados podem afundar no vermelho nos próximos anos se não houver um ajuste em suas contas.

Para prevenir tal situação, “as opções são (obter) novas receitas ou trabalhar o lado das despesas”, resumiu Dawson.

Outra opção é começar a investir suas reservas, o que já faz o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), por exemplo. A seção de investimentos do BID tem uma bolsa com US$ 16 bilhões em títulos de Governos, bancos e empresas.

Se o Fundo seguir por este caminho, pode se transformar em possuidor de bônus do tesouro de países aos quais dá conselhos sobre política econômica e sobre os quais sabe muito mais do que qualquer outro investidor.

No entanto, Dawson descartou que isso crie um conflito de interesses. “Há opções para o investimento das reservas do Fundo”, disse, sem entrar em detalhes.

Além de buscar novas receitas, o Fundo poderia apertar o cinto e, neste âmbito, a conta mais crítica é a de pessoal, que absorverá a maior parte de suas despesas operacionais e administrativas de US$ 1,892 bilhão para este ano fiscal.

Os 3 mil funcionários do FMI desfrutam de altos salários e benefícios de dar inveja, como viagens semestrais para eles e suas famílias a seu país de origem, ajudas para a educação dos filhos, seguro de vida e ótimas condições para hipotecas.

Dawson não quis dar detalhes sobre possíveis cortes de despesas, mas brincou ao dizer que a instituição planeja seu “próprio ajuste estrutural”.

O executivo, entretanto, não deve se preocupar muito com isso, pois deixa seu posto em 30 abril.