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Onde está o dinheiro?

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Apesar de já terem recebido a primeira parcela da remuneração extra da convocação extraordinária, no valor de R$ 12.800 — o total será de R$ 25.600 extras — pelo menos sete deputados ainda não cumpriram a promessa de depositá-la em contas de entidades e instituições sociais. Pressionados pela opinião pública, já que a convocação extraordinária custará aos cofres públicos cerca de R$ 100 milhões e a maioria sequer tem ido trabalhar, até ontem 73 deputados tinham ou devolvido ou declarado que doariam o dinheiro. Destes, 32 informaram que fariam as doações pessoalmente. Levantamento feito em apenas um dia pelo GLOBO mostrou, porém, que diversas entidades ainda aguardam a doação.

O deputado Marcello Siqueira (PMDB-MG) anunciou com destaque na imprensa de Juiz de Fora, sua base eleitoral, o envio de recursos para entidades da cidade. Na relação do peemedebista aparecem entidades a Fundação Ricardo Moysés Junior, que ajuda crianças e adolescentes com câncer; a Fundação Espírita João de Freitas, de amparo a idosos; e a Fundação de Amor, que ajuda pacientes com câncer.

Representantes dessas três entidades sentiam-se ontem usados por terem seus nomes divulgados sem o respectivo depósito do dinheiro. Até ontem, as três entidades não tinham sido sequer informadas da doação.

— O nome da entidade saiu no jornal. Fica uma situação complicada porque não recebemos retorno do deputado. Num momento que há denúncias de corrupção, temos que ter muito cuidado. O dinheiro não foi depositado. Nem sei o valor — disse Jane Berlose, presidente da Fundação Ricardo Moysés Junior.

Procurado pelo GLOBO, Marcello Siqueira disse que não fez o depósito porque está de licença médica. Disse que fará o depósito em fevereiro.

Vice-presidente de ONG nega doação

Também em Juiz de Fora, a Sociedade São Vicente de Paulo, entidade filantrópica que trabalha com comunidades carentes, não recebeu até ontem recursos prometidos pelo deputado Júlio Delgado (PSB-MG).

— Não foi depositado qualquer dinheiro. Ouvi dizer que receberíamos uma contribuição. Mas até agora o recurso não chegou — informou o presidente da instituição, João Flaviano Domingos.

Delgado informou que já havia feito o depósito para a Sociedade São Vicente de Paulo de Juiz de Fora e da cidade de Lima Duarte. Segundo ele, o depósito de R$ 2 mil foi enviado ao vice-presidente da entidade, Nicanor Leonel Zeferino. Ao GLOBO, porém, Nicanor disse que foi procurado, mas que nada recebeu:

— Falei com o Júlio Delgado agorinha mesmo. João Flaviano (presidente da entidade) não estava sabendo da doação. Mas está tudo em casa. Ainda não recebi o dinheiro, mas o Júlio me disse que entrega amanhã (hoje).

Caso semelhante ocorreu com o deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), que prometeu recursos para a Fundação João XXIII de Amparo ao Menor, em Barbacena (MG). A presidente da entidade, Dolores Moreira Lopes, não viu a cor do dinheiro:

— Chegamos a apresentar um projeto para aquisição de um forno de padaria, no valor de R$ 6.500. Mas até agora, não recebemos retorno. A doação não foi confirmada.

Lopes disse que ainda vai doar:

— Não tive tempo de comunicar.

Ainda em Minas, o deputado Vittorio Medioli (PL) prometeu uma doação para o Lar de Meninas Madalena Medioli, em Betim, que funciona como abrigo de jovens carentes. Até ontem, a entidade, segundo funcionários, não tinha recebido os recursos, apesar de a instituição ter sido fundada pelo próprio deputado. Segundo a assessoria política do parlamentar, o depósito já foi autorizado. Medioli não retornou as ligações.