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O perigoso apetite do brasileiro pela poupança compulsória

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A pesquisa divulgada dia 26 pelo banco HSBC sobre previdência trouxe um dado considerado inquietante pelos especialistas. Quando questionada sobre “como vamos pagar pela aposentadoria”, a maior parte dos entrevistados respondeu que deveria ser por meio de uma poupança compulsória.

O que foi ainda mais temerário, segundo especialistas que assistiram à apresentação do trabalho semana passada, na sede do banco em São Paulo, é que a opinião teve mais alcance entre os brasileiros do que entre outros povos que participaram da enquete. Enquanto 37% dos entrevistados a nível global escolheram a poupança compulsória, no Brasil 53% deram essa resposta.

A Pesquisa Global sobre o Futuro da Aposentadoria, promovida pela matriz do HSBC em Londres, foi bem ampla e abordou diversos aspectos do tema do envelhecimento e aposentadoria. Foram entrevistadas cerca de 21 mil pessoas com 18 anos de idade ou mais em 20 países e territórios em cinco continentes. Segundo o relatório divulgado, a população total dos países e territórios cobertos abrange quase 62% da população mundial.

Os autores do trabalho – o Instituto Oxford de Envelhecimento e a Age Wave, consultoria especializada fundada pelo Dr. Ken Dychtwald, um dos maiores e mais reconhecidos especialistas no assunto – fizeram uma leitura até positiva das respostas sobre como financiar o afastamento do trabalho na velhice.

“Independentemente de viverem em economias adiantadas ou em transição, as pessoas decidiram que precisam se preparar para sua própria velhice. Mas precisam de ajuda para fazê-lo e a sua mensagem para seus governos é: Ajude-me a poupar”, diz o relatório do HSBC. As pessoas estariam conscientes da necessidade de ampliar os recursos para a aposentadoria, acham que o estado é o maior responsável por prover os recursos para a velhice de seus cidadãos, porém rejeitaram os instrumentos de sempre: aumento de impostos, atraso na data para se retirar ou redução do valor das aposentadorias.

“Estou surpreso, nunca imaginei esse tipo de resposta”, comentou o economista e especialista em contas públicas Raul Velloso, que há anos vem alertando para o desequilíbrio da Previdência Social, seu potencial explosivo sobre as contas públicas e a necessidade premente de reformas profundas.

“A poupança compulsória vai acabar substituindo a voluntária”, alertou o Professor Flavio Marcílio Rabelo, da Fundação Getulio Vargas (FGV), que pesquisa os impactos macros e microeconômicos do crescimento da previdência complementar, aberta e fechada no Brasil. Para Rabelo, o fato de pessoas pobres esperarem pelo governo para prover a aposentadoria é natural. O que é preocupante são pessoas de classe média terem a mesma expectativa. “Isso dificulta a reforma da previdência porque qualquer reforma implica em perda de bem-estar de algum grupo”, analisou Rabelo.

Foi lembrado também que o país já tem experiência em poupanças compulsórias, a principal delas o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Em geral, os recursos acumulados por obrigação e geridos pelo Estado acabam direcionados para outras finalidades. “O grande desafio é a educação previdenciária”, afirmou Rabelo.

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