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O mundo é, sim, das mulheres!

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Por Carolina Juliano, para o Valor

As mulheres do vilarejo de Lozisca, na Croácia, ocuparam, no mês passado, todas as vagas do conselho administrativo local, assumindo pela primeira vez o controle do governo. Antes das croatas, Angela Merkel, a líder do partido Democrata-Cristão, venceu as eleições alemãs e tornou-se a primeira mulher na história a governar a Alemanha. Esta semana, no dia em que, no Chile, Michelle Bachelet, da Concertación Democrática, também se tornava a primeira mulher a governar seu país, tomou posse, na Libéria, Ellen Johnson-Sirleaf, primeira presidente de um país na África.

O fato de três mulheres chegarem aos postos máximos de seus países, ao mesmo tempo, em três continentes diferentes, pode até ser coincidência. Mas ainda assim ilustra uma realidade que vem se desenhando nas últimas décadas, na qual se observa que ser mulher é cada vez menos impedimento para ocupar cargos de liderança no mundo todo.

Só para lembrar alguns casos dos últimos anos: Megawati Sukarnoputri foi nomeada presidente da Indonésia em 2001; Gloria Arroyo, em 2000, foi nomeada chefe do Estado nas Filipinas; Chandrika Kumaratunga ganhou as eleições presidenciais do Sri-Lanka em 1994 e foi reeleita em 1999; Tarja Halonen foi eleita em 2000 a primeira presidente da Finlândia; Mary McAleese foi eleita em 1997 para a Presidência da Irlanda; na Letônia, Vaira Vike-Freiberga foi, em 1999, a primeira mulher a ser eleita chefe de Estado no Leste europeu; Mireya Moscoso foi eleita presidente do Panamá, em 1999; desde 1996, Hasina Wajed é chefe do governo em Bangladesh; Helen Clark sucedeu, como primeira-ministra, em 1999, outra mulher, Jenny Shipley, que foi a primeira a ocupar o cargo na Nova Zelândia; e mais recentemente, desde 2004, Luísa Diogo é a primeira-ministra em Moçambique.

Nos Estados Unidos, prevê-se que a próxima disputa eleitoral para a Presidência se dê entre mulheres. A ex-primeira-dama, Hillary Clinton, e a secretária de Estado do governo George W. Bush, Condoleezza Rice, serão, provavelmente, as protagonistas desse pleito.

“Mulheres chegarem a postos importantes não é um fato novo. Há os casos de Indira Ghandi, na Índia, e de Margareth Thatcher, na Inglaterra”, diz a professora Maria Hermínia Tavares de Almeida, cientista política da Universidade de São Paulo. “Mas observamos que nas últimas décadas houve um crescimento, e até uma consolidação, da participação de mulheres em lideranças de partidos.”

Para a professora, a eleição de Michelle Bachelet, no Chile; Angela Merkel, na Alemanha, e Ellen Johnson-Sirleaf, na Libéria, mostra algo mais importante. “Nenhuma dessas três mulheres foi eleita por ser mulher. O importante é que o fato de ser mulher já não é um obstáculo para ocupar cargos de liderança. Essas mulheres não empunharam bandeiras feministas nem fizeram campanha em cima da condição de ser mulher. Foram escolhidas como candidatas por uma coalizão, e o fato de ser mulher, nesses casos, pouco importou.”

Os oposicionistas de Michelle Bachelet até ensaiaram combatê-la nas urnas colocando em dúvida as capacidades de uma mulher à frente da Presidência da República, mas a estratégia não resultou. Pelo contrário, gerou um efeito negativo. E o perfil de Michelle não corresponde exatamente ao de uma figura política bem-sucedida no Chile. Além de mulher, é separada, mãe de três filhos e ainda socialista. “Só não há mais mulheres na política devido à falta de interesse. A participação feminina ainda é pequena porque a política não é uma atividade que atraia tanto a mulher”, explica Maria Hermínia.

Apesar de ainda pequena, a participação das mulheres na política é crescente. No Brasil, um levantamento do professor Fabiano Santos, do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), mostra que a participação feminina na Câmara dos Deputados, no período 1946-1967 era de apenas 0,4%. Entre 1987-1999, as mulheres já ocuparam 5,8% das cadeiras de deputado federal. Atualmente, as mulheres ocupam 8,2% das cadeiras do Congresso e 14,8% das vagas do Senado. A atual legislatura conta ainda com duas mulheres governadoras de Estado, 319 prefeitas de municípios, 6.992 vereadoras e 130 deputadas estaduais.

Apenas 15 países do mundo – dentre aqueles que possuem representatividade parlamentar – têm mais de 30% de seus parlamentos compostos por mulheres. Angola, na África, é o campeão: 49% das cadeiras são ocupadas por elas. A ascensão de mulheres na África tem uma explicação, segundo a pesquisadora Anjalina Sen, da Liga Internacional de Mulheres pela Paz e a Liberdade: “Elas têm maior probabilidade que os homens de manter diálogo quando há dificuldade. Estão sendo mais eleitas em países devastados por guerras”.

Quando soube da vitória, Ellen Johnson-Sirleaf declarou que assumiria o cargo para “trazer um pouco de sensibilidade materna à Presidência”. A Libéria sofreu 14 anos com uma guerra civil que deixou 250 mil mortos e mais de 1 milhão de refugiados.

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