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O Brasil que cresce e prospera

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Apesar do catastrofismo dos economistas e da choradeira contra o câmbio, alguns setores avançam mais que a China e a Índia

Por José Fucs

Nem só de más notícias vive o mundo dos negócios. Embora o Brasil tenha crescido apenas 3,7% em 2006, bem abaixo de outros países emergentes, como China e Índia, alguns setores da economia não têm do que reclamar. Em meio aos resultados decepcionantes do país como um todo, às denúncias de corrupção na esfera política e às dificuldades de alguns exportadores com a valorização do real diante do dólar, eles formam uma espécie de arquipélago em que ilhas de prosperidade esbanjam dinamismo e vitalidade

Em 2007, o desempenho da economia deverá ser superior ao do ano passado. De acordo com números divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na semana passada, o Produto Interno Bruto (PIB) – a soma das riquezas produzidas no país, uma referência usada pelos especialistas para medir a força das economias – cresceu 0,8% no primeiro trimestre do ano. Com isso, a estimativa de crescimento neste ano subiu para 4,2% (veja o quadro abaixo). É um pouco mais que a taxa de 2006, embora ainda abaixo da média mundial, em torno de 5%, segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI).

O índice de crescimento do PIB representa uma média do que acontece na economia. Como toda média, esconde o que fica acima e o que fica abaixo. Há, portanto, atividades que crescem pouco ou quase nada. Um exemplo: nos ramos de vestuário, pecuária e bens de consumo houve queda de 5%, 0,8% e 0,4%, respectivamente, em 2006, de acordo com dados setoriais. Mas há também uma economia pujante dentro do Brasil, que nada fica devendo a estrelas emergentes como China e Índia. Entre os setores que mais crescem, destacam-se: construção civil, comércio eletrônico, higiene e beleza, móveis, turismo, veículos e, claro, toda a cadeia produtiva do álcool, ou etanol, o “combustível verde”. Com menor impacto que o petróleo no aquecimento global, ele promete ser uma das locomotivas da economia nos próximos anos. O setor aéreo, apesar dos percalços que transformaram num inferno a vida de milhares de passageiros nos últimos tempos, cresceu 42% em 2006. Neste ano, deverá continuar a crescer no mesmo ritmo. Considerando que, no Brasil, o catastrofismo dos economistas e a choradeira compulsiva dos empresários costumam dar o tom do noticiário econômico, é sempre estimulante constatar que as coisas, ao final, não são tão ruins quanto podem parecer à primeira vista. “Não vai faltar capital para o Brasil crescer 6%, 7% ou 8% ao ano”, afirma Rodolfo Riechert, responsável pelo braço de investimento do Banco UBS Pactual, o mais ativo do país na emissão de ações de empresas na bolsa de valores.

Em ritmo acelerado

Alguns ramos de atividade estão crescendo bem acima da média nacional (em %). Em 2007, os setores de informática e comércio eletrônico deverão crescer um pouco menos que no ano passado. Mesmo assim, muito mais que a previsão do Produto Interno Bruto (PIB)

(1) Estimativa (2) Projeção com base no desempenho do primeiro trimestre de 2007

 

Fontes: IBGE e associações empresariais 

No início de junho, na tentativa de minorar os problemas dos setores exportadores, prejudicados pelo câmbio, como calçados ou eletroeletrônicos, o governo anunciou medidas de auxílio no valor de R$ 1 bilhão. O efeito de longo prazo tende a ser quase nulo. “Isso é dinheiro de pinga, só para o governo dizer que está fazendo alguma coisa”, diz o economista Luís Carlos Mendonça de Barros, ex-ministro das Comunicações no governo FHC e hoje dedicado a sua empresa de investimentos, a Quest. “A matriz produtiva do Brasil vai mudar de um jeito ou de outro. O importante agora é identificar os setores em que queremos ser competidores globais, por termos maior eficiência e produtividade.”

O objetivo desta reportagem é ajudar a identificar aquelas atividades que deverão continuar a crescer acima da média. Quem quiser entender o Brasil de hoje precisa prestar atenção às áreas que estão prosperando. Elas mostram o que poderá ser o Brasil de amanhã. Aquele Brasil onde estarão os investimentos e os empregos. 

AÇÚCAR E ÁLCOOL
Na onda da energia limpa

Estimulado pelo aumento dos preços do açúcar no mercado internacional e principalmente pela maior demanda de álcool combustível, o setor apresentou um crescimento de 7,9% em 2006, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É mais que o dobro da média nacional. Em 2007, de acordo com estimativas dos especialistas, a produção de álcool poderá crescer bem mais que isso. Há quem fale em 20%. Os motivos: a crescente preocupação com os efeitos negativos do petróleo no aquecimento global e o aumento da procura mundial pelo etanol. Grandes investidores mundiais estão de olho no álcool brasileiro. Só o bilionário de origem húngara George Soros anunciou recentemente investimentos de US$ 900 milhões em projetos ligados ao álcool no Brasil. “O etanol é uma alternativa atraente”, diz Soros.

As principais vantagens oferecidas pelo Brasil aos investidores são o mercado interno pujante e o pioneirismo tecnológico, presente em centros de pesquisa inovadores, como o da Votorantim em Campinas, no interior de São Paulo. Outra empresa pioneira no setor é a Dedini, fabricante paulista de equipamentos para usinas de álcool. Diante das crescentes encomendas, ela está ampliando seu parque para produzir 33 usinas por ano até 2010, em vez das 24 produzidas atualmente. Com isso, o quadro de funcionários deverá aumentar 15%, de 4.800 para 5.500, em 2007. O faturamento, por sua vez, deverá passar de R$ 1,1 bilhão, em 2006, para R$ 1,8 bilhão, neste ano, um aumento de 60%. Com o crescente interesse mundial pelo álcool nacional, a Dedini já exporta seus equipamentos para 25 países, entre eles Estados Unidos, México e Canadá. “O momento é tão bom que estamos negociando até com a Austrália e o Sudão, na África”, afirma Sérgio Leme, vice-presidente da empresa.

COMÉRCIO ELETRÔNICO
Tudo sem sair de casa

Os antigos manuais de marketing rezavam que, para vender, era preciso atrair o consumidor para a loja. Hoje, uma saída mais eficiente é levar a loja até a casa do comprador – mais especificamente ao computador dele. O comércio eletrônico disparou no Brasil. No ano passado, cresceu 70% em relação a 2005, de acordo com a Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico. O volume total de vendas on-line, que era de R$ 2,5 bilhões em 2005, atingiu R$ 4,4 bilhões em 2006. Neste ano, se as previsões se confirmarem, deverá dar um novo salto, de 52%, para R$ 6,7 bilhões. O ritmo de alta será um pouco menor que em 2006, mas, ainda assim, será quase 12 vezes o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), estimado em 4,2%. As causas são o aumento no número de internautas e a entrada já anunciada de poderosos varejistas, como a rede Wal-Mart, no comércio eletrônico.

No total, segundo a entidade, há 6,5 milhões de pessoas comprando por meio da internet cerca de 200 mil produtos de 20 categorias. Uma das áreas que se reinventaram com o comércio eletrônico foi o comércio de livros. A Livraria Cultura, uma das líderes de mercado, informa que registra um aumento anual de cerca de 50% nas vendas pela web. Hoje, segundo a empresa, 18% do faturamento vem de vendas de livros pela rede. “Até a chegada da internet, era difícil o acesso a livros em muitas partes do país”, diz Pedro Herz, presidente da Cultura. “Num país onde não há bibliotecas suficientes, a expansão da internet facilita o acesso dos leitores aos livros.”

O avanço das vendas on-line também é fruto do aumento da confiança dos brasileiros nas transações pela internet, proporcionado por sistemas mais eficazes contra fraudes. Até o governo está estimulando o envio de dados sigilosos pela web, como a declaração de Imposto de Renda. “Todo mundo investiu em segurança”, diz Herz. “Hoje, é mais arriscado você pagar uma conta de restaurante, em que o garçom some de sua vista com seu cartão de crédito, que comprar pela internet.” A eficiência dos Correios também colabora para o resultado positivo. “Os Correios deixaram de ser uma empresa que só entrega correspondências para virar uma das mais importantes empresas de logística do mundo”, afirma Manuel Mattos, presidente da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico.

CONSTRUÇÃO CIVIL
Quem quer dinheiro?

No início de fevereiro, a Tecnisa, de São Paulo, uma das construtoras mais dinâmicas do país, lançou ações nas bolsas de valores para reforçar o capital e financiar sua expansão. Captou ao todo R$ 791,3 milhões. Com o dinheiro, pretende lançar novos empreendimentos imobiliários no Estado de São Paulo e começar a expansão em outras regiões do país. Já possui projetos em Curitiba e Fortaleza. No ano passado, a empresa faturou R$ 717 milhões, 42% a mais que em 2005. Neste ano, pretende chegar a R$ 1 bilhão em vendas, repetindo o crescimento de 2006. “Queremos diversificar nossa atuação geográfica”, diz Andrea Ruschmann, diretora-financeira da Tecnisa.

O caso da Tecnisa é um exemplo da explosão de negócios na área da construção civil. Muitas outras empresas tradicionais do setor decidiram vender ações na bolsa para reforçar o caixa, como Camargo Corrêa, JHSF e Even. Segundo estimativas de executivos do mercado financeiro, as companhias do setor captaram cerca de R$ 10 bilhões nas bolsas desde o ano passado. “O setor está capitalizado”, afirma o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP), João Cláudio Robusti. Com medidas de redução de impostos, o crédito imobiliário, restrito até há pouco tempo, ressurgiu de forma generosa. O volume total de financiamentos chegou a R$ 9,4 bilhões, o triplo do valor de 2005. Os juros, entre 12% e 13% ao ano, tornaram-se mais amigáveis e os prazos de financiamento mais longos, de até 30 anos.

As indústrias de materiais de construção registraram um crescimento de 6,35%, em média, no faturamento líquido em 2006, segundo uma pesquisa da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat). Para 2007, as previsões de crescimento são ainda mais otimistas. Se o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) sair do papel no segundo semestre, o setor deverá crescer no mínimo 8%.

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