MP facilita aquisição da Nossa Caixa pelo Banco do Brasil, diz executivo
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LORENNA RODRIGUES
da Folha Online, em Brasília
O vice-presidente de finanças do Banco do Brasil, Aldo Luis Mendes, disse nesta quarta-feira que um dos efeitos imediatos da nova MP (medida provisória) que autoriza bancos públicos a adquirir instituições privadas será facilitar a compra da Nossa Caixa, que está em negociação.
Mendes negou, no entanto, que o banco queira comprar outros bancos além da Nossa Caixa e do BRB (Banco de Brasília), operações que já estão em análise.
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Mendes disse que uma das dificuldades para a concretização da compra da Nossa Caixa é o fato de o governo do Estado de São Paulo não aceitar o pagamento em ações. Com a MP, o pagamento pode ser diretamente, em dinheiro, sem necessidade de emitir novas ações.
"A MP reduz em 50% os desafios para comprar a Nossa Caixa. Num mercado em ascensão, poderíamos monetizar as ações, dando uma garantia de preço e de liquidez ao longo do tempo. Mas por trás disso tem uma engenharia complexa que não há a menor condição de levar adiante agora", afirmou.
De acordo com Mendes, existe ainda dificuldade em acordar um preço para a compra da Nossa Caixa. Ele ressaltou que a MP traz uma vantagem potencial para o BB no caso de novas aquisições e fusões, mas que não há nada em vista.
"Não existe nenhum banco que nós estejamos olhando para comprar, alem do BRB e Nossa Caixa, nenhuma seguradora, absolutamente nada. A MP é algo que dota a gente de potencial para o futuro", completou.
Mendes disse ainda que associar a MP a riscos potenciais de bancos brasileiros é uma visão imediatista. Ele disse que os bancos que precisavam de liquidez já resolveram os problemas utilizando de medidas anteriores do Banco Central, como a venda de carteiras de crédito.
"É uma medida de precaução, como estamos fora do olho do furacão, dá tempo para tomarmos medidas. O governo brasileiro está conseguindo tirar vantagem de se antecipar dos acontecimentos. Essa medida é mais uma que se encaixa nisso", afirmou.
Para o vice-presidente, a MP deixa ainda BB e Caixa preparados para, caso exista alguma oportunidade, poderem adquirir bancos.
"Em momentos de liquidez concentrada, quem tem o dinheiro na mão dá as cartas do jogo. Pode fazer excelente negócios".
MP
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou ontem uma MP 443, que autoriza os bancos públicos brasileiros, a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil, a adquirirem participações em instituições financeiras privadas. Hoje isso é proibido. A informação foi antecipada pelo colunista Guilherme Barros.
Além de bancos, também podem ser estatizadas seguradoras, instituições de previdência privada e de capitalização. A MP também autoriza a Caixa Econômica Federal a comprar a participação acionária de construtoras em dificuldade.
Medidas semelhantes já foram adotadas por EUA e Europa e ajudaram a tranqüilizar os mercados. No entanto, por lá a injeção foi direta, ou seja, os governos ou BCs irão comprar os ativos, enquanto por aqui a aquisição se dará por meio de bancos públicos.