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“Milhões vão ganhar o registro de nascimento comercial”

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Abnor Gondim
 

BRASÍLIA – O senador Adelmir Santana (DEM-DF) foi um dos parlamentares que mais comemoraram, na semana passada, a aprovação do projeto de lei que institui a figura do Microempreendedor Individual (MEI), cujo objetivo é estimular a regularização de 10,3 milhões de empreendedores informais em atividade no País. "Estamos dando [aos empreendedores informais] um registro de nascimento comercial de forma não complicada, pois, com o pagamento de apenas R$ 45 e mais R$ 5, para o INSS, esses empreendedores passam a ter acesso a todos os benefícios previdenciários", afirmou, em entrevista exclusiva ao DCI. "É oferecer dignidade para milhares de profissionais que deixarão a informalidade e serão chamados de empresários. Isso é cidadania."

A comemoração não se deve apenas ao fato de que ele foi relator no Senado da matéria, oriunda da Câmara dos Deputados, mas principalmente porque é empresário e líder no segmento de comércio e serviços como presidente do Sistema Fecomércio. Além disso, preside o Conselho Deliberativo Nacional do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), uma das instituições que mais se empenharam para a aprovação do projeto. Para Adelmir, a melhoria das condições de pequenos negócios no Brasil é essencial para o País enfrentar a crise financeira internacional. "É o momento de dar oportunidade às micro e pequenas empresas, pois são as que de fato mais empregam no País. Elas podem ajudar muito na solução da crise", disse.

Nesta entrevista ao DCI, o senador discorre também sobre a eleição da Mesa do Senado e sobre as articulações para o pleito presidencial de 2010.

DCI: O que significou a aprovação do projeto que cria o MEI na semana passada?

AS: É apenas um dos dispositivos do projeto, que corrige algumas distorções da Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas nos estados, cria o comitê gestor e cria a figura jurídica do MEI, para quem tem até R$ 36 mil anuais de faturamento. Com essa inovação, estamos dando um registro de nascimento comercial de forma não complicada, pois, com o pagamento de apenas R$ 45 e mais R$ 5, para o INSS, esses empreendedores passam a ter acesso a todos os benefícios previdenciários. O projeto significará uma revolução na inclusão social daqueles microempresários que hoje se encontram na informalidade. Tanto que foi consenso de todos nós e beneficiará todo o País.

DCI: Mas há quem diga que o MEI vai servir à precarização do mercado de trabalho. Como o senhor responde a este raciocínio?

AS: Não pode acontecer, porque o MEI é um empreendimento individual, que tem de abrir firma na Junta Comercial como qualquer empresa. A diferença é que não se pode ter empregados. Pelo projeto, permite-se apenas um empregado, que vai recolher 8% dos ganhos em tributos federais .

DCI: A aprovação do MEI foi uma vitória dos defensores do aprimoramento da Lei Geral, mas a inclusão de 14 novas categorias no Supersimples ficou de fora, porque foi retirada a emenda da líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (PT-SC).

DCI: A aprovação do MEI foi uma vitória dos defensores do aprimoramento da Lei Geral, mas a inclusão de 14 novas categorias no Supersimples ficou de fora, porque foi retirada a emenda da líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (PT-SC).

AS: Exatamente, nós a chamamos de Emenda da Ideli, mas na verdade havia encampado as propostas de vários outros senadores, ou seja, do Inácio Arruda (PcdoB-CE), Flecha Ribeiro, (PSDB-PA), Renato Casagrande (PSB-ES), Delcídio Amaral (PT-MS) e Eduardo Azeredo (PSDB-MG). Todas foram transformadas por mim em uma só emenda.

DCI: Ainda a respeito da inclusão das novas categorias, há possibilidades na Câmara de se inserir como optantes do Supersimples as empresas de corretagem de seguros, serviços de tradução, escritórios de advocacia, auditoria e consultoria, assessoria de imprensa, publicidade, engenharia, arquitetura, agronomia e clínicas de medicina, odontologia, fisioterapia, terapia ocupacional, nutrição e fonoaudiologia, conforme previa a Emenda Ideli?

DCI: Ainda a respeito da inclusão das novas categorias, há possibilidades na Câmara de se inserir como optantes do Supersimples as empresas de corretagem de seguros, serviços de tradução, escritórios de advocacia, auditoria e consultoria, assessoria de imprensa, publicidade, engenharia, arquitetura, agronomia e clínicas de medicina, odontologia, fisioterapia, terapia ocupacional, nutrição e fonoaudiologia, conforme previa a Emenda Ideli?

AS: Não. O projeto volta para a Câmara apenas para os deputados dizerem sim ou não às modificações feitas pelo Senado, porque a matéria é originária de lá [Câmara]. O que existe são manifestações de alguns parlamentares no sentido de apresentar projetos de lei para a inclusão das categorias que ficaram de fora.

DCI: A senadora Ideli Salvatti adiantou que vai buscar essa alternativa, a via do projeto de lei, e pedir regime de urgência constitucional. Como o senhor vê este movimento?

AS: Sim, tem a própria Ideli, mas também o senador Francisco Dorneles (PP-RJ) está propenso a fazer o mesmo.

DCI: Mudando um pouco de assunto, como o senhor avalia a votação do DEM em favor da extinção do fator previdenciário proposta pelo senador Paulo Paim (PT-RS)? Criado em 1999, o fator previdenciário é uma fórmula que considera a idade e a expectativa de sobrevida do trabalhador (conforme dados do IBGE) no momento do pedido de aposentadoria, para calcular seu valor. Quanto mais jovem ele seja, menor será o valor do benefício, o que acaba por desestimular os pedidos de aposentadoria. Vale lembrar que esse instrumento foi criado por um dos expoentes da legenda, o ex-ministro da Previdência Valdeck Ornelas. Isto não é contraditório?

AS: Quanto ao passado, acredito que foi um erro. Na verdade, foi uma votação unânime, até porque o Paim tem feito um grande trabalho, tem tido uma atuação grandiosa. Por isso ninguém votou contra nenhum dos projetos dele [outro projeto institui a correção ano a ano dos benefícios mantidos da Previdência].

DCI: A respeito dos desafios do Brasil perante a crise financeira internacional que estamos enfrentando, qual é a avaliação do senhor?

AS: Na verdade há pressupostos, no nosso país, que são diferentes da situação de outros países. Temos o compulsório [dos bancos], que agora pode ser usado para irrigar a economia. No entanto, eu penso que a retomada passa pela pequena e pela microempresa. É o momento de dar oportunidade a elas, pois são as que de fato mais empregam no País. Elas podem ajudar muito na solução da crise. Outro potencial a ser explorado é o do turismo. O Brasil, apesar de toda essa diversidade, recebe um número muito pequeno de turistas estrangeiros. Essa é uma área em que podemos investir mais e que pode trazer muitas divisas para o País.

DCI: O senhor está em campanha para reeleger-se na presidência do Conselho Deliberativo Nacional do Sebrae?

AS: Esse processo está em aberto, foi publicado o edital, que estabelece prazo de até 72 horas, antes do dia 15, para o registro de chapas. Estou aguardando, ainda não fiz nenhuma movimentação de compor a chapa. O que percebo é que não há nenhuma contestação ao meu nome.

DCI: Haverá uma "dobradinha" Adelmir Santana e Paulo Okamotto?

AS: O caminho é que a direção do conselho executivo, da qual faço parte, e a executiva sejam reconduzidos.

DCI: Passando a outra eleição, qual tem sido o seu envolvimento no processo de escolha da direção da mesa diretora do Senado?

AS: Os democratas estão aguardando que o PMDB guarde o princípio da proporcionalidade, o princípio de que o partido de mais peso dirija a Casa. O PT tem candidatura posta, mas os democratas estão aguardando as articulações. Sabemos que o PMDB terá candidato, só não divulgou ainda o nome. Então nós estamos nessa direção, acreditamos que serão reservados aos democratas cargos na Mesa, de acordo com o peso do partido, que hoje são a primeira e a terceira secretarias.

DCI: Mas e quanto às contestações referentes à inconveniência de o mesmo partido, no caso o PMDB, dirigir ao mesmo tempo as duas Casas?

AS: Isso já aconteceu no passado, e quem elegeu foi o povo, que criou as condições.

DCI: Quais são os seus projetos políticos pessoais?

AS: Não luto por nenhum espaço. Como representante do DF, quero apenas contribuir. Por isso, não estou fazendo quaisquer injunções. Desejo fazer parte dos planos do partido, mas tudo vai depender de alianças no Brasil. De qualquer forma entendo que temos de construir as bases.