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Mercado teme mudanças na política econômica

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Os rumores crescentes de que o ministro Antonio Palocci pode deixar o governo começaram a provocar alguma inquietação no mercado financeiro, ainda que boa parte dos analistas ainda aposte na sua permanência na Fazenda. Até a semana passada, a eventual saída de Palocci era vista sem grandes problemas, porque havia a crença de que o substituto seria alguém com credenciais ortodoxas impecáveis, como o secretário-executivo da Fazenda, Murilo Portugal.

Mas, como hoje parece improvável a indicação de um técnico como Portugal, os investidores passaram a analisar e – a ver com mais ou menos desconforto – os nomes que aparecem com mais chances na bolsa de apostas, como o do senador Aloizio Mercadante (PT-SP), do ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, ou da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Para o mercado, o problema é que todos os três são críticos da política econômica, em maior ou menor grau.

O consultor Alexandre Marinis, da Mosaico Economia Política, acredita que Lula deve insistir na manutenção de Palocci, a não ser que surjam novas denúncias contundentes contra o ministro. Para ele, a dificuldade de encontrar um substituto com um perfil parecido ao de Palocci evidencia a sua importância para o governo, por mais debilitado que ele esteja.

Para o economista-chefe do Pátria Banco de Negócios, Luís Fernando Lopes, a novidade dos últimos dias é que o mercado começou a se dar conta de que sua solução preferida – a indicação de alguém como Portugal – é muito improvável. “É difícil acreditar que um técnico sem acesso direto ao presidente e sem respaldo político seja indicado para o Ministério da Fazenda, por melhor que seja”, afirma ele.

Mercadante não causa os calafrios que a menção de Dilma provoca em alguns investidores, mas está longe de ser o nome dos sonhos do mercado. O senador nunca escondeu suas críticas ao regime de metas de inflação e ao nível de câmbio, o que preocupa o mercado. Lopes lembra que ele não é mais o defensor de mudanças radicais na política econômica, mas mesmo assim haveria a expectativa de alterações na economia. Ciro é outro que seria recebido com reservas, por ser um crítico do modelo econômico adotado por Palocci.

Mas o nome que mais desagradaria ao mercado é sem dúvida o de Dilma. Crítica feroz da política fiscal e dos juros altos, sua escolha indicaria que Lula decidiu mudar a orientação da política econômica. Com isso, sua eventual indicação tenderia a provocar forte volatilidade no mercado. “Seria a maneira mais fácil de o dólar subir para a casa de R$ 3, como quer parte do governo”, brinca um investidor.

Ainda que cogitem a saída de Palocci, os analistas ainda acreditam que Lula vai tentar mantê-lo. O principal motivo, para o economista Roberto Padovani, da Tendências Consultoria Integrada, é que o presidente não teria incentivos para mudar o ministro ou a política econômica num momento em que as perspectivas para 2005 parecem promissoras. Depois de três anos de austeridade, o ano que vem poderá ser o momento de colher os frutos desse esforço. Afinal, os juros estão em queda, a inflação é declinante, o crescimento deve ser maior que neste ano e o emprego e a renda continuam em recuperação. Nesse cenário, fazer movimentos que provoquem uma alta mais forte do dólar, por exemplo, não seriam do interesse do presidente, devido ao potencial impacto inflacionário, avalia Padovani.

Outro problema é que um eventual mudança na Fazenda tenderia a causar outro foco de instabilidade. Como Mercadante, Ciro e Dilma são críticos da política de juros altos, os investidores passariam a ter dúvidas quanto à permanência de Henrique Meirelles no BC e a autonomia da autoridade monetária para definir a Selic. Para os analistas, o resultado seria mais volatilidade no mercado.

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