Louceiras do sertão paraibano já produzem na nova sede da associação

Os 20 associados da entidade trabalham satisfeitos com as novas instalações. "Antes, o forno ficava num terreno baldio. Agora, temos loja na frente, galpão para trabalhar, tanque, banheiro e, nos fundos, dois fornos", informa, entusiasmada, Francisca José de Souza, presidente da associação.

O terreno e a casa foram doados por Luiz Gonzaga Mariano, um dos associados da entidade. A reforma do imóvel foi viabilizada pelo Programa Cooperar, desenvolvido pelo Banco Mundial em parceria com o governo estadual, prefeitura municipal de Cajazeiras, entre outros parceiros. O Sebrae na Paraíba também apoiou a instalação da nova sede. A Instituição desenvolve ações voltadas aos loiceiros (ou louceiros) de Cajazeiras há cerca de dez anos. Desde 2000, desenvolve o Projeto Cerâmica do Sertão na cidade.

As 12 artesãs e oito artesãos integrantes da Associação das Loiceiras do Bairro de São José estão prontos para atender a muitas encomendas, segundo a presidente da entidade. Nos fins de semana, eles vendem utensílios domésticos de cerâmica na Feira Livre de Cajazeiras. São peças como panelas, potes e pratos que ainda hoje são utilizada pelas famílias da região.

"Tem gente que vem de longe comprar", comenta a presidente da associação. "Inclusive médicos compram nossas panelas para cozinhar para eles. Dizem que as panelas de alumínio estão aumentando o câncer, e que as panelas de barro são mais saudáveis."

Bordado no barro

Para fora do município e do Estado, os artesãos produzem belas cerâmicas bordadas, que estão se tornando famosas. As peças foram criadas em curso de design realizado pelo Sebrae/PB. Os pratos são literalmente bordados com agulha e linhas coloridas de crochê. "Foram três meses de curso de design. Aprendemos a bordar os pratos com um designer, usando agulha média e linhas bem coloridas de crochê", conta Francisca. "Fizemos bastante cursos. Nem sei quantos", acrescenta. As peças custam entre R$ 10 e R$ 80.

A cerâmica bordada faz muito sucesso fora da Paraíba, diz Francisca. Ela informa orgulhosa que, recentemente, a entidade vendeu 90 pratos de cerâmica bordada para o arquiteto do programa Caldeirão do Huck da TV Globo.

Todas as peças produzidas pela associação, bordadas ou não, são em cor terracota. Os temas são sempre flores e frutas. No momento, os artesãos estão desenvolvendo uma nova técnica. "Estamos criando a louça preta". A técnica consiste em queimar as peças até mudar o cor do barro para preta.

Francisca revela que começou a viajar para levar as cerâmicas a feiras na Paraíba e em outros estados, com apoio do Sebrae/PB. Todos os anos, a associação participa do Mão de Minas, evento nacional de artesanato realizado em Belo Horizonte (MG). Nesse caso, não é ela quem vai. "Maceió foi onde mais longe eu fui", revela.

O próximo desafio para os loiceiros de Cajazeiras é adquirir um torno e uma máquina para bater o barro. Eles querem os benefícios da máquinas modernas. "A gente não consegue nada trabalhando só", observa Francisca. "Já estamos fazendo o projeto para conseguir recursos."

Loiça ou louça

A produção de loiças é uma herança cultural das mais antigas no sertão paraibano.
Quase se extinguiu, nas últimas décadas, devido à concorrência dos produtos industrializados. Não fossem as ações de resgate cultural, as loiceiras também não mais existiriam, de acordo com Rosemi Mary Oliveira Silva, gerente do Sebrae em Cajazeiras.

As palavras loiça e loiceira constam dos dicionários de português como variação e significam, respectivamente, louça e louceira. São usadas orgulhosamente em Cajazeiras para designar os utensílios domésticos de barro e as habilidosas artesãs e artesãos, herdeiros da tradição portuguesa. "Eles fizeram questão de colocar loiceiras no nome da associação para fazer referência ao passado", conta a gerente. A Associação das Loiceiras do Bairro de São José foi fundada em novembro de 2003.

"Antigamente só havia loiceiras, pois os homens não faziam loiça", conta Francisca. Hoje, a entidade conta com oito loiceiros. "Eles ajudam muito: pisam, peneiram e queimam o barro. É serviço pesado", explica. Entre eles, há alguns com habilidade para também alisar as peças e até bordar, acrescenta a presidente da associação.

Segundo Francisca, será necessário conseguir mais fregueses e receber bastante encomenda para continuar melhorando a condição de vida dos artesãos. Além de ajudar nas despesas domésticas, a renda das loiças tem possibilitado a compra de móveis, fogão, televisão.

De acordo com a gerente do Sebrae em Cajazeiras, Rosemi Mary Oliveira Silva, a qualidade de vida dos loiceiros está realmente melhorando nos últimos anos. O fato de a prefeitura municipal ser parceira do Projeto Cerâmica do Sertão amplia os serviços oferecidos ao bairro de São José. Calçamento das ruas e os benefícios do Programa Saúde da Família são alguns deles, afirma Rosemi.