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Inflação e endividamento das famílias devem segurar PIB em 2008

Publicado em:

Folha Online

CIRILO JUNIOR
da Folha Online, no Rio

O consumo das famílias, um dos principais vetores do crescimento econômico nos últimos meses, deverá desacelerar ao longo deste ano, diante de um quadro inflacionário mais intenso e do maior endividamento da população. É o que apontam economistas ouvidos pela Folha Online, que projetam, ainda assim, crescimento em torno de 5% neste ano no país.

"A inflação é um ponto decisivo, já que está chegando no bolso do consumidor agora. Acho difícil que o desempenho da economia desabe este ano, mas a inflação poderá ter um efeito um pouco maior", afirma o diretor executivo do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), Júlio Gomes de Almeida.

Alan Marques/Folha Imagem
Mantega vê desaceleração positiva e mantém previsão do PIB em 5% para este ano
Mantega vê desaceleração positiva e mantém previsão do PIB em 5% para este ano

Para o sócio-diretor da RC Consultores, Fábio Silveira, o crescimento de 0,3% do consumo das famílias na passagem do quarto trimestre de 2007 para o primeiro trimestre desse ano já demonstra uma pequena desaceleração, causada pelo aumento do endividamento.

"O cenário é de redução da renda nominal, com o aumento do grau de endividamento. A expansão do crédito foi muito forte", avalia.

Na comparação com os três primeiros meses do ano passado, o consumo das famílias cresceu 6,6% neste primeiro trimestre.

Cenário semelhante ocorreu com a economia, que cresceu 5,8% na comparação com o primeiro trimestre de 2007, e registrou incremento de 0,7% em relação ao trimestre imediatamente anterior.

Troca de atores

Silveira acrescenta que haverá uma "troca dos atores" na dinâmica do PIB (Produto Interno Bruto). Isso quer dizer que ao mesmo tempo em que a expansão do consumo das famílias será menor, os gastos do governo crescerão. Ele destaca ainda a manutenção de nível mais elevado da taxa de investimento.

Jorge Araujo/Folha Imagem
Para Lula, PIB vai ajudar no equilíbrio entre a oferta e demanda e a controlar a inflação
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"O crescimento da economia será menor do que no ano passado, mas ainda se manterá em nível alto. Depois do resultado de hoje, reduzimos nossa previsão de crescimento no ano de 5,5% para 5%", disse.

Júlio Gomes de Almeida tem a mesma previsão, mas não estima elevação relevante do consumo do governo. Ele lembra que os gastos do governo têm um peso três vezes menor do que o consumo das famílias, e considera que o forte incremento constatado de janeiro a março ocorreu em função do calendário eleitoral, que limita os gastos do Executivo durante a campanha eleitoral.

"Aparentemente, o crescimento está estabilizado em um bom patamar, que não é explosivo como alguns apontavam. A economia desacelerou, o consumo das famílias também, mas o investimento se manteve", explica Almeida.

Capacidade produtiva

O professor da escola de pós-graduação em economia da FGV (Fundação Getúlio Vargas), Fernando Holanda Barbosa, destaca que o crescimento da economia nos patamares que vinham sendo registrados eram insustentáveis diante da limitação da capacidade produtiva do país. Diante disso, sustenta, a desaceleração é natural.

Raimundo Pacco/Folha Imagem
Construção civil impulsiona crescimento do PIB no 1º trimestre, segundo IBGE
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"A desaceleração vai levar a um crescimento mais consistente e permanente. Vejo um crescimento sustentado nos próximos trimestres", afirmou.

Barbosa cobra redução dos gastos do governo, e ampliação do investimento público, para garantir a elevação da taxa de investimento do país. Para ele, o atual nível de investimento — representa 18,3% do PIB — é baixo.

Fábio Silveira aponta ainda preocupação em relação à influência do cenário externo na economia. Ele lembra que o desempenho do primeiro trimestre já não foi positivo, e que o aprofundamento da crise pode influenciar a expansão da economia brasileira.

Arte Folha Online