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Ganho do mínimo supera o da classe média

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No fim do governo Lula os trabalhadores que recebem salário mínimo ou o tem como referência para o reajuste salarial, terão acumulado um ganho real de renda de 32% . Já para aqueles que não ganham salários próximos ao mínimo, a maior parte das negociações salariais realizadas de 2003 a 2006 pagou, em média, apenas 1% reais ao ano.

Além do reajuste menor, os trabalhadores com salários mais elevados tiveram uma parcela maior da renda corroída pela alta de preços em diversos produtos e serviços. Com isso, o poder de compra da classe média continuou a minguar desde 2003, algo que já havia ocorrido no segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso.

Um estudo da MB Associados mostra que o conjunto dos serviços que têm seus preços monitorados (IPTU, tarifa de ônibus, energia elétrica e água) subiu 3,65% a mais do que a variação da inflação medida pelo INPC nos três anos e quatro meses do governo Lula. O INPC é o índice que serve de parâmetro à maioria das negociações salariais.

Em relação ao aumento do salário mínimo no mesmo período, os preços monitorados recuaram 2,68%. No governo FHC, os preços dos serviços monitorados também subiram mais em relação à inflação (6,13%) e menos em relação ao reajuste do salário mínimo: 1,75%. “Ou seja, para os que têm reajustes influenciados pelo mínimo, como aqueles que recebem entre um a dois salários, o ganho proporcionado pelo aumento do mínimo superou a alta de gastos com esses serviços”, explica Sergio Vale, autor do estudo da MB Associados.

Outro ganho no poder de compra está na alimentação. Os bens consumidos pela população de menor renda variaram 9% desde dezembro de 2002, tomando-se como referência os produtos da cesta básica em Salvador. No total dos produtos alimentícios (onde se incluem bens mais supérfluos), a alta foi de 11,25%.

No fim do governo FHC, um salário mínimo comprava em média uma cesta básica e meia em Salvador. Nestes primeiros meses de 2006, pela primeira vez desde 1982, um trabalhador pôde comprar a cesta básica gastando menos da metade do salário mínimo. Ou seja, um mínimo pagou duas cestas básicas na maioria das capitais pesquisadas pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-econômicos (Dieese). Em Salvador, o poder de compra chegou a duas cestas e meia.

De 2003 até 2005, as categorias que conseguiram reajustes expressivos (5% ou mais além da inflação acumulada nos 12 meses anteriores à data-base, o que daria no acumulado de quatro anos um percentual ainda bastante inferior aos 32% do mínimo), foram muito poucas. Das 1.854 negociações analisadas pelo Dieese, apenas cinco conseguiram um aumento dessa magnitude e representaram 0,003% do total.

Entre 1997 e 2004, a renda das pessoas que ganham mais de 20 salários mínimos, ou R$ 7 mil mensais, cresceu 7,3% acima da inflação, de acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). Já o rendimento médio dos que ganham entre um e dois salários mínimos avançou, em igual período, 14,7%.

Esse crescimento – inferior ao ganho real do salário mínimo nos mesmo período – permitiu um estreitamento da diferença de renda entre as classes mais ricas e mais pobres. Em 1997, o rendimento de quem ganhava entre um e dois salários mínimos representava 4,17% do rendimento dos mais ricos, aqueles que ganham acima de 20 mínimos. Em 2004, últimos dados da PNAD, essa porcentagem cresceu um pouco e chegou a 4,5%.

Para o economista da MB Associados, se por um lado é louvável o ganho de renda para os setores mais carentes – de 2003 até este ano o mínimo já cresceu 32,2% em termos reais, mais do que os 20,8% dos oito anos de FHC – de outro, preocupa o empobrecimento da classe média. “Essa assimetria ocorre porque grande parte da melhora da renda deriva do aumento do salário mínimo e não de um aumento de renda para o conjunto dos trabalhadores”, diz. Isso fica evidente nos dados do IBGE. O rendimento médio real recebido pelos trabalhadores das regiões metropolitanas de São Paulo, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Porto Alegre permaneceu praticamente estável entre 2003 e fevereiro deste ano. Sofreu um recuo de 0,66% e passou a valer R$ 929.

Marcelo de Ávila, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), lembra que as transferências de renda também aumentaram muito na gestão petista e colaboram no incremento de renda dos menos abastados. No último ano do governo FHC, as transferências de renda representaram 0,19% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Hoje, elas são 0,5% do PIB. Em termos nominais, significaram R$ 2,5 bilhões em 2002 e devem chegar a R$ 9,5 bilhões neste ano.

Vale explica que durante os dois primeiros anos do Plano Real a população mais pobre teve um ganho de renda extraordinário, pois era a parcela que não conseguia se proteger da inflação galopante. Como a população já estava com um poder de compra maior e a política fiscal era uma prioridade, o governo FHC deixou de lado os reajustes no salário mínimo e deu prioridade às transferências de renda. Assim, dava mais dinheiro aos pobres, mas evitava um rombo maior nas contas públicas.

A gestão de Lula optou por agir nas duas frentes: salário mínimo e transferências. Isso tem ajudado a reduzir o nível de pobreza. “E a promover um pouco de justiça social”, diz Ávila. Porém, segundo o economista, não se tem criado condições para que, no futuro, essa parcela da população consiga se inserir no mercado de trabalho. “Não se investe o suficiente em educação, em capital humano”, ressalta. Fábio Romão, da LCA Consultores, diz que só um crescimento econômico contínuo e generalizado poderá melhorar o mercado de trabalho e assim, elevar o nível de emprego e renda da população. Enquanto o desemprego for alto, os salários serão sempre pressionados para baixo.

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