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É hora de os governos usarem estímulos fiscais, diz “Economist”

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O Globo

Em sua edição mais recente, a revista britânica The Economist traz um artigo que defende que, depois de o mundo aparentemente ter conseguido contornar um colapso no sistema bancário, é hora de os governos agirem diretamente para enfrentar a contração da economia e assim tentar evitar uma grande recessão. O instrumento sugerido é a política fiscal.

No artigo intitulado "The next front is fiscal" ("A próxima batalha é fiscal", em tradução literal) a publicação britânica explica que o mecanismo mais comum usado para estimular a economia é a taxa de juros. Mas, com a crise no sistema financeiro, cortes de juros como os vistos nas últimas semanas não são tão eficientes, com bancos acumulando reservas e segurando empréstimos. Em países como os EUA, que cortaram os juros para 1% no último dia 29, esta política está ainda mais restrita.

"A próxima política tem que ser fiscal", diz o artigo. "Quando o mercado de crédito está disfuncional, a demanda privada está desaparecendo e a confiança está fraca, um empurrão fiscal é uma boa opção".

A revista cita diversas medidas em política fiscal que podem ser tomadas.

"Cortar impostos coloca mais dinheiro direto no bolso das pessoas. Aumentando seus próprios gastos, os governos podem incentivar diretamente a demanda e o emprego. Claro que este estímulo aumenta os déficits de curto prazo dos governos, mas os efeitos nocivos de uma recessão prolongada podem ser ainda maiores, como o Japão mostrou na década de 1990".

Espaço de manobra

A revista ainda afirma, que no entanto, não há uma receita para esta política fiscal, na medida em que alguns países têm mais espaço para este tipo de estímulo que outros.

"Muitos países emergentes com grandes déficits externos terão uma ação limitada, como a Hungria, que apertou seu orçamento esta semana. No outro extremo está a China, com grandes reservas de moeda estrangeira e com superávit em conta corrente e no orçamento".

Mas, apesar do grande déficit em conta corrente dos EUA, segundo a revista, este é o país com maior espaço de manobra para este tipo de estímulo de curto prazo. Isto porque o dólar e os créditos do Tesouro são considerado como muito seguros atualmente e porque o país tem impostos mais baixos e redes de proteção social menos generosas que a Europa, por exemplo, onde os gastos com benefícios para desempregados automaticamente aumentam em tempos de crise.

Em fevereiro, os Estados Unidos já lançaram um pacote de US$ 168 bilhões para estimular a economia e, segundo a revista, outro pacote está sendo estudado para depois das eleições.

A Europa, no entanto, também precisa de estímulo fiscal, diz a revista, que cita que a Espanha já lançou um pacote de estímulo e Alemanha e Grã-Bretanha estudam os seus.

"O Japão também lançou um pacote de 5 trilhões de ienes, grande parte direcionada a famílias e pequenos negócios", afirma o artigo.

Coragem

Segundo a The Economist, este tipo de estímulo deve ser temporário, direcionado e tem que conter planos para a saúde fiscal do país a longo prazo.

"Não há receitas mágicas. Cortes nos impostos podem dar dinheiro aos consumidores, mas as pessoas podem escolher economizar ou gastá-lo em importados. Gastos governamentais, em infra-estrutura, por exemplo, podem ter benefícios de longo prazo, mas podem levar tempo. Ajudar grupos em particular, como proprietários de imóveis e montadoras, tem apelo político, mas em geral, a ajuda a indústrias específicas não é boa idéia".

O artigo termina com algumas sugestões para os governos.

"Nos EUA, ajuda federal para os Estados faz muito sentido. Na Europa, um corte nos impostos de valor agregado pode ser bom. A China deveria estimular os gastos sociais. Até agora, os governos corajosamente conseguiram prevenir a catástrofe financeira. O cenário sombrio diz que eles agora devem ter coragem fiscal também", diz o artigo.

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