Dilma ganha mais poder e vira a gerente do plano
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Objetivo é evitar que se repita o que aconteceu com o Pacote 51 de FHC: muitas promessas e poucas ações
Vera Rosa e Tânia Monteiro
O poder dela é muito maior do que se imagina. E vai aumentar. A partir de amanhã, quando for lançado o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, ganhará mais uma atribuição: o comando de um novo comitê, encarregado de fiscalizar o andamento do plano com o qual o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende marcar seu segundo mandato. Gerente do governo, Dilma está empenhada em não deixar que o programa se transforme em mera carta de intenções, como o Pacote 51, anunciado em 1997 pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso.
A referência ao frustrado esforço fiscal de dez anos atrás foi tanta, nas reuniões reservadas do Palácio do Planalto, que Lula decidiu escalar a chefe da Casa Civil para dirigir um comitê de acompanhamento do PAC. O núcleo vai monitorar a execução das ações previstas no programa até 2010. A aposta do presidente, com a penca de medidas embaladas sob o rótulo de estímulo aos investimentos, indica uma inflexão econômica na tentativa de fazer o País crescer todo ano na casa de 5%.
Nesse destravamento do Brasil, na verdade eu só falo e a Dilma trabalha, afirmou Lula, em dezembro, ao se reunir com empresários, no Palácio do Planalto. Quando na campanha eu falava deixa o homem trabalhar, na verdade eu queria dizer deixa a mulher trabalhar.
Aos 58 anos, com amplo gabinete no quarto andar do Planalto, Dilma faz jus à sua fama de guerrilheira implacável dos anos de chumbo. Desde que assumiu a cadeira ocupada por José Dirceu – o ministro da Casa Civil que caiu na esteira do escândalo do mensalão, em junho de 2005 -, ela venceu a maioria das batalhas que levou adiante, não só na seara econômica, mas também no meio ambiente.
O cardápio de assuntos dos quais Dilma cuida é variado: da crise aérea à construção de hidrelétricas, passando por investimentos em infra-estrutura, pedágios, superávit primário e pendências que os governadores querem resolver com a União. O jornal britânico Financial Times chegou a comparar a decisão anunciada por Dilma, de rever o programa de concessão de rodovias federais, à intenção do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, de nacionalizar setores da economia. Ela se irritou ao ser incluída no rol das personalidades estatizantes.
INCURSÃO
Há uma semana, Dilma fez uma incursão pelo mundo das articulações políticas: foi à casa do presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), candidato à reeleição. Conversou com o comunista por mais de uma hora, mostrou preocupação com o racha na base aliada e garantiu que o Planalto não está usando a caneta das nomeações para inflar a candidatura do líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP).
Aos interlocutores curiosos, Dilma contou que foi Aldo quem telefonou para ela. Não tive delegação do presidente para essa conversa, assegurou. A uma pergunta se também agregaria às suas funções, a partir de agora, a resolução de conflitos políticos, ela respondeu: Deus me livre! Não tenho nem tempo para isso. Mesmo assim, a interferência de Dilma em vários feudos da Esplanada dos Ministérios causa ciumeira entre petistas. Ex-ministra de Minas e Energia, ela tem apenas seis anos de PT – era filiada ao PDT de Leonel Brizola – e já é uma das mais próximas colaboradoras do presidente.
Tanto que seu nome aparece na fila dos cotados para disputar a sucessão de Lula, em 2010. A chefe da Casa Civil comprou briga com o PMDB governista, num passado não muito distante, quando desaprovou a transferência de Paulo Lustosa, presidente da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), para o Ministério da Saúde.