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Demonstrativos Contábeis e Eficácia nas Empresas

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Em tese os demonstrativos em Contabilidade possuem o objetivo de apresentar um curso de acontecimentos patrimoniais relacionados.

Desde os aspectos abrangentes dos balanços até os simples aspectos de casos isolados, as referidas peças possuem a finalidade de mostrar uma realidade para exame, coordenando afinidade de acontecimentos em tempos e espaços certos e que representam “campos” ou “universos de fenômenos”.
Diferença substancial, todavia, pode existir na finalidade que se visa a alcançar.

Não são as mesmas coisas as evidências elaboradas para o uso de pessoas que se situam fora da empresa (investidores, bolsas, instituições financeiras, entidades públicas etc.) e aquelas que dentro do empreendimento precisam orientar a tomada de decisões fundamentadas em coisas concretas.

Alguns acontecimentos que sequer a lei permite sejam evidenciados e outros que a legislação exige podem até deformar a verdade (no Brasil são diversos os casos em que a lei infringe duramente preceitos contábeis).

Isso porque a legislação, quando volvida a matéria contábil, tem consagrado mentiras e ensejado ocultação de realidades, do ponto de vista patrimonial.
Iguais transgressões estão sendo cometidas no campo das normatizações onde o interesse e a ação de grupos de poder manipula ao seu sabor a matéria que se destina a ser informativa.

Dominar a informação é uma forma de exercer poder.
Uma coisa, pois é a Contabilidade a serviço da prosperidade, para cumprimento de metas de gestão e outra é aquela apenas limitada e a serviço de classes de poder, aferrada às limitadas evidências “financeiras”.
A busca de instrumentos de informação cada vez mais sofisticados, para administrar empresas, de efeitos internos na empresa, em razão do interesse que tem pela realidade, prende-se mais ao científico.

A “financeira”, por outro lado, possuindo efeitos externos, forçada pelo modismo das “normas”, influenciada pelas oligarquias, tem aferrolhado o pensamento, apresentando utilidade deveras relativa e que não é a da colimação da eficácia empresarial.

Os computadores e seus programas, felizmente, ampliaram os recursos de pesquisas e análises de situações organizadas para fins administrativos, abrindo oportunidades novas para a produção de modelos, ensejando hoje um apoio à ciência bem maior do que antes se poderia imaginar.

As previsões sobre os movimentos de dinheiro e que se resumiam em peças preocupadas exclusivamente com os possíveis “saldos de caixa” em cada época, sugerem agora grandes interrogações, especialmente quando apenas visam a evidenciar “probabilidades” em bases empíricas.

Até que ponto um curso financeiro espelhado em um demonstrativo pode ajudar a prever lucros, a determinar um fluxo de eficácia, é de colocar-se em dúvida, porque a oscilação do resultado não depende só do movimento de dinheiro.

Que tudo pode ser expresso em moeda não se coloca em dúvida, mas, que tudo a ela se refira é inverídico.
Há valor de conta e conta de valor.

Uma coisa é a forma quantitativa de mensuração e outra a essência dos fenômenos patrimoniais, esta que precede àquela.

A avaliação é efeito onde o fenômeno ou acontecimento patrimonial é causa.
Amplas são as variáveis envolvidas nos relacionamentos do patrimônio, quer por influências internas, quer por aquelas externas ou do ambiente que cerca a empresa (mercado, tecnologia, natureza, política, sociedade etc.) e tal variedade não se limita apenas ao giro do dinheiro.

O denominado “fluxo de caixa” e que a rigor, para ser fiel ao conceito, não é, senão, um demonstrativo de uma imaginável dinâmica de recebimentos e pagamentos, de necessidades de dinheiro e de possibilidades de recursos em obtê-los e aplicá-los, mostrou-se incompetente para evidenciar, por si só, as questões relativas ao resultado e a eficácia.

Não há dúvida, e isto a minha teoria das funções sistemáticas bem já evidenciava há cerca de quase 20 anos, que há um processo de rigorosa interação entre os sistemas de funções patrimoniais.

Assim, por exemplo, entre a liquidez e a resultabilidade a uma forte interação, mas, outros sistemas, também estão comprometidos no movimento patrimonial, alterando situações e funcionando de forma autônoma (estabilidade, economicidade, produtividade, invulnerabilidade, elasticidade etc.), necessitando ser considerados de forma holística.

O dinheiro influi no lucro e o lucro no dinheiro, mas, também, todos os demais sistemas vivem em reciprocidade de influências.

O que se deve buscar, pois, é um demonstrativo competente para identificar as variações em seus cursos, ou seja, a demonstração dos efeitos das interações referidas especialmente para fim interno na empresa, indicador dos caminhos rumo à prosperidade, ou seja, os da eficácia constante e capitalizada.

Para visualizar, por exemplo, se um aumento de vendas a crédito, poderá atingir a prosperidade, utilizando como instrumento de estudo o demonstrativo de fluxos, este só será realmente útil se adaptado para denunciar os efeitos integrais da aludida variação.

Não bastará considerar liquidez e resultabilidade para o caso referido.
Se faltar a consideração do regime de riscos, de equilíbrio, de produtividade, de elasticidade (dimensão adequada), a idéia sobre os fatos ficará distorcida.
O mesmo pode-se afirmar também e especialmente quanto à “vitalidade” da empresa (economicidade) nesta envolvida a velocidade do giro e a continuidade do empreendimento.

A prospecção do movimento do capital implica envolver todas as funções da riqueza, para que realmente possa evidenciar realidade.

Assim, uma singular realização de um maior investimento em mercadorias pode prejudicar momentaneamente o fluxo da liquidez, por outro lado beneficiar o lucro em maior prazo, mas, ao mesmo tempo, aumentar o risco, beneficiar a produtividade, inflar a elasticidade ou dimensão do empreendimento e desequilibrar a estrutura patrimonial.

As previsões não devem limitar-se, pois, ao movimento de dinheiro, devendo abranger o conjunto, a todos os sistemas de fenômenos (que são vários).
No que tange a lucros futuros, também, um “fluxo de caixa” apenas financeiro, é assaz incompetente para espelhar uma realidade.

Os cálculos de fundo de comércio, por exemplo, fundamentados nos primitivos referidos demonstrativos, são absurdamente errôneos se não se considerarem todos os demais efeitos que influem sobre a matéria.
Isto é perfeitamente constatável quando se tem por preocupação estabelecer um trabalho contábil em bases científicas, fundamentado na doutrina do neopatrimonialismo.

Todos hoje reconhecem que a questão fundamental das empresas não é só a da área das finanças, pois, muitos outros fatores existem a considerar.
Só as vetustas práticas do início do século XX e que por todo o mesmo perduraram continuam aferradas à visão monocular do financeiro.

A mudança de ótica, ou melhor, essa ampliação de entendimento, é bem a característica das doutrinas modernas, ou seja, a de uma forma avançada de entender a riqueza patrimonial das empresas e instituições.

O empirismo, todavia, que está a dominar as normatizações e os demonstrativos defluentes em Contabilidade, poderá causar sérios danos se as referidas peças dimanadas forem tomadas como guias para os fins de natureza administrativa, pois, não possuem plena capacidade para tanto.

Autor: Antônio Lopes de Sá
Contato: [email protected]

Doutor em Letras, honoris causa, pela Samuel Benjamin Thomas University, de Londres, Inglaterra, 1999 Doutor em Ciências Contábeis pela Faculdade Nacional de Ciências Econômicas da Universidade do Brasil, Rio de Janeiro, 1964. Administrador, Contador e Economista, Consultor, Professor, Cientista e Escritor. Vice Presidente da Academia Nacional de Economia, Prêmio Internacional de Literatura Cientifica, autor de 176 livros e mais de 13.000 artigos editados internacionalmente.

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