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Crise se amplia e BCs da Europa e EUA põem US$ 154 bi no mercado

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Aversão ao risco aumenta e provoca forte retração no sistema de crédito interbancário; Bush tenta acalmar investidores

Patrícia Campos Mello

O aprofundamento da crise das hipotecas de alto risco obrigou o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) e o Banco Central Europeu (BCE) a socorrerem os mercados ontem.

link Entenda a crise do mercado americano

A turbulência começou com o anúncio do banco BNP Paribas, o maior da França, de que iria congelar os resgates de três de seus fundos, com ativos de US$ 2,2 bilhões, que têm investimentos em papéis lastreados em hipotecas de alto risco. O anúncio desencadeou uma onda de aversão ao risco entre os investidores e os bancos fecharam a torneira de crédito.

Com isso, as taxas de juros interbancárias subiram muito e os bancos centrais resolveram injetar recursos no sistema por meio de empréstimos para cobrir o déficit de crédito. O BCE emprestou mais de US$ 130 bilhões a 4% ao ano no overnight. O Fed injetou US$ 24 bilhões no sistema bancário para manter a taxa de empréstimos em 5,25%, depois de abrir em 5,5% de manhã. Tanto nos EUA quanto na Europa, os juros antes das intervenções superavam a taxa básica. O Banco do Canadá também injetou um volume de recursos maior do que o normal no mercado para estabilizar o sistema.

O aperto de crédito reverberou no mercado acionário, derrubando as bolsas. O Índice Dow Jones, o mais importante da Bolsa de Nova York, teve a maior queda (2,8%) desde a turbulência provocada pela Bolsa de Xangai, em 27 de fevereiro. A bolsa eletrônica Nasdaq caiu 2,16% e o Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) despencou 3,28%.

Depois de anos concedendo empréstimos imobiliários para pessoas com histórico de crédito capenga, os EUA estão em plena temporada de calotes. Essa onda de inadimplência tem efeitos em cadeia: primeiro, a crise do subprime atingiu as empresas imobiliárias; depois, bancos e fundos hedge (de alto risco), que compravam papéis lastreados nesses financiamentos arriscados. Agora, espalha-se para outros tipos de financiamento, até mesmo para pessoas com bom histórico de crédito. E chega até as aquisições alavancadas de empresas (compras feitas com endividamento).

Os investidores estão preocupados com os sinais de que a crise do subprime dos Estados Unidos está se alastrando. Nos últimos dias, várias empresas de financiamento imobiliário fecharam as portas e muitos fundos hedge que investem em papéis lastreados em hipotecas, como os da Bear Stearns que quebraram no início do mês passado, estão em dificuldades. A crise chegou até a Europa, onde bancos que investiram em papéis lastreados em hipotecas dos EUA também estão com problemas. Bancos alemães, com apoio do governo , resgataram o IKB Deutsche Industriebank.

Assustados com as perdas nos fundos, investidores estão fugindo para qualidade, ou seja, voltando-se para os papéis do Tesouro americano, considerados os mais seguros do mercado mundial.

O nervosismo ontem chegou a tal ponto que até o presidente dos EUA, George W. Bush, tentou acalmar os ânimos durante uma entrevista coletiva concedida pela manhã. Nossa economia é forte e há liquidez suficiente no sistema para correção, disse.

Ainda assim, o mercado não se acalmou. Sem dúvida, estamos vendo um aperto de crédito generalizado, disse Italo Lombardi, economista da IdeaGlobal em Nova York. Já há reflexos em papéis da dívida e moedas de emergentes, mas não acredito que haverá impacto no lado real da economia do Brasil, por exemplo. Mas ele observa que pode haver uma desaceleração no ritmo de corte de juros no Brasil.

Alguns congressistas americanos sugerem que a Fannie Mae e a Freddie Mac, gigantes estatais de financiamento imobiliário, sejam recrutadas para estabilizar o mercado e resgatar alguns proprietários de imóveis. Alguns analistas avaliam que o presidente do Fed, Ben Bernanke, deveria começar a reduzir a taxa de juros, para injetar liquidez na economia e evitar quebradeira. Mas outros apontam para o chamado risco moral – se o Fed socorrer, vai estimular o comportamento irresponsável de aposta em ativos arriscados.

Alguns analistas apontam a Goldman Sachs como a próxima baixa – as ações do banco despencaram 5,7% ontem, por causa de uma reportagem do Wall Street Journal, mostrando que mais um fundo administrado pelo banco terá de vender ativos para compensar perdas com papéis de hipoteca.

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