Cresce aversão aos impostos, diz pesquisa
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Após eleição, mudança no sistema tributário passou a figurar como principal prioridade para o país, aponta levantamento da Ipsos
Tema desbancou reforma do Judiciário no topo das preocupações; para 57%, tributos são o maior entrave para a geração de empregos
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
A reforma tributária é considerada hoje fundamental pela população brasileira para o país alcançar o desenvolvimento econômico. Os impostos cobrados pelo governo são vistos como o maior obstáculo na criação de empregos na opinião de 57% da população e de 56% das elites brasileiras.
A conclusão é de uma ampla pesquisa feita em dezembro passado pela Ipsos Public Affairs dividida em duas partes, uma com a população e outra com a chamada elite brasileira (integrante do Congresso e do governo, empresários e jornalistas). A maior parte das perguntas foi estimulada.
A pesquisa com a população faz parte de levantamento mensal da Ipsos chamado Pulso Brasil, na qual são ouvidas mil pessoas em todo o país.
A grande novidade na pesquisa de dezembro foi a parte relativa às elites. O objetivo foi de comparar os resultados com o mesmo estudo realizado em junho, antes das eleições, com o mesmo público. Foram ouvidos cem integrantes dos Poderes Executivo e Legislativo, cem empresários e 80 jornalistas, universo que compõe a pesquisa das elites.
A Ipsos constatou que as eleições modificaram a macroagenda político-econômica do país. As elites brasileiras elegeram, além da educação e da saúde, a falta de desenvolvimento econômico do país como principais problemas a serem resolvidos.
A corrupção e o desvio de verbas deixaram de fazer parte, em dezembro, dos cinco principais problemas do país. Antes das eleições, na pesquisa de junho, esse item foi apontado por 24% dos entrevistados como prioritário. Em dezembro, depois das eleições, só 16% dos ouvidos consideraram a corrupção o principal problema.
O que mais chamou a atenção, no entanto, foi a ênfase dada à necessidade da reforma tributária. De acordo com a Ipsos, no cenário pré-eleitoral havia a sensação de que era preciso implementar reformas, mas agora esse sentimento se consolida em torno da necessidade de modificação do sistema tributário brasileiro.
Antes das eleições, na pesquisa de junho do ano passado, o levantamento mostrou que apenas 9% da elite achavam a reforma tributária necessária para melhorar as condições de vida da população. Entre as reformas, era considerada a sexta mais importante. A reforma do Judiciário encabeçava a lista, com 52 %.
No mês passado, o quadro mudou. A reforma do Judiciário tornou-se a terceira mais importante, superada pela tributária, a primeira colocada, com 63%, e pela previdenciária, que ficou em segundo lugar, com 49%.
A população acompanha a opinião das elites sobre os principais rumos político e econômico do país, aponta o estudo. Os impostos cobrados pelo governo também são considerados o maior obstáculo à criação de empregos. Em segundo lugar vêm os juros. Em terceiro, o fato de o governo gastar mais dinheiro do que arrecada.
Tanto a população quanto a elite consideraram que seria fundamental a redução de gastos para se reduzir impostos. Sem cortar gastos, a pesquisa mostra que o Brasil vai crescer abaixo do necessário.
Segundo a Ipsos, a principal discordância de opinião entre a população e as elites está na maior flexibilidade do governo na gestão dos gastos com investimentos sociais. Ao contrário das elites, a maioria da população é contrária a essa medida. Um percentual maior da população, por exemplo, defende que o salário mínimo cresça acima da inflação: 67%, contra 49% das elites.
Conscientização
O diretor-geral da Ipsos, Clifford Young, considerou surpreendentes os resultados da pesquisa. Ele acha que essa conscientização, da população e das elites, sobre a necessidade das reformas, em especial da tributária, se deve ao fato de o tema ter sido amplamente discutido durante as eleições do ano passado.
O melhor exemplo foi a votação do candidato ao Senado por São Paulo Guilherme Afif Domingos (PFL), que sempre defendeu a bandeira da reforma tributária. Ele obteve 8,3 milhões de votos, um resultado próximo dos 8,7 milhões do até então considerado imbatível Eduardo Suplicy (PT). “Fui fruto dessa nova consciência da sociedade”, diz Afif, atual secretário de Emprego e Trabalho do Estado de São Paulo.