Crédito consignado para micros precisa ser ágil
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Idéia do governo é bem recebida, mas com ressalvas
Fabio Graner, Adriana Fernandes
A idéia em análise no governo de criar um crédito consignado para as micro e pequenas empresas, antecipada pelo Estado em sua edição de domingo, foi bem recebida por especialistas. Eles acham, porém, que para que a medida tenha efeito, é preciso uma regulamentação clara e agilidade por parte dos bancos.
Para o gerente de acesso de serviços financeiros do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Carlos Alberto dos Santos, a criação dessa modalidade de crédito pode ser muito benéfica e eficaz para as micro e pequenas empresas, barateando os custos dos empréstimos. “Mas, para dar certo, é preciso que a análise do crédito seja ágil”, disse.
Segundo Santos, esse setor tem muito mais dificuldade de acesso ao crédito dos bancos em comparação com as médias e grandes empresas e, por isso, recorrem a empréstimos mais caros, como o cheque especial de pessoa física, para capitalizar sua empresa.
COMPARAÇÃO
O gerente de acesso de serviços financeiros do Sebrae comparou a situação das micro e pequenas empresas às classes C e D, que antes da criação do crédito com desconto em folha de pagamento tinham grandes dificuldades de acesso a empréstimos bancários, mas agora se tornaram clientes disputados pelos bancos.
Santos destacou que há experiências bem-sucedidas em outros países, como o México. Para o gerente do Sebrae, a expansão do crédito alavanca o consumo e amplia o círculo virtuoso da economia.
SEPARAÇÃO
Para que seja bem-sucedida a idéia do governo de regulamentar a linha de crédito consignado para microempresas, é fundamental que a nova legislação deixe bem clara a separação entre o dinheiro que deve entrar no caixa da empresa pelo pagamento do serviço ou bem fornecido e as parcelas devidas ao banco ou ao fundo que está financiando a companhia por meio desse tipo de operação financeira.
A recomendação é do sócio da consultoria Integral, empresa especializada em operações de crédito realizadas com recebíveis, Carlos Fagundes.
“A chave para essa regulamentação ser bem-sucedida é a segregação clara dos fluxos financeiros originados dos recebíveis”, disse Fagundes.
“Uma legislação inteligente, que permita esse tipo de blindagem, é bem-vinda. À medida que isso evoluir, pode dar condições para que as empresas de pequeno porte possam manter estruturas de financiamento semelhantes às que as grandes têm acesso”, acrescentou.
Ainda segundo o sócio da consultoria Integral, a implementação da idéia do consignado para as microempresas pode levar a uma redução clara nos custos financeiros para essas companhias.
Para Fagundes, hoje, as operações mais tradicionais, como desconto de duplicatas, têm um custo entre 2% e 4% ao mês, dependendo do perfil da empresa e também da qualidade das duplicatas.
Enquanto isso, nas operações com recebíveis realizadas pelas grandes empresas, a taxa de juros fica bem menor entre 1,3% e 1,4% ao mês (17% a 18% ao ano), incluindo os custos operacionais.
“A medida vai criar uma dinâmica de redução de custos para as empresas que poderão ter condições vantajosas de financiamento”, argumentou.