Classe média, tributação alta
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Adriana David
A renda do brasileiro da classe média só começará a ser usada para comer, se vestir, morar, comprar e poupar a partir do dia 26 de setembro. Até lá, o seu salário estará comprometido com o pagamento de impostos e serviços particulares de segurança, educação, saúde e previdência, já que os públicos são considerados ineficientes pela população.
O dado consta de um estudo do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), que mostra, ainda, que essas despesas totalizarão, até setembro, 73,53% da renda das famílias que recebem entre R$ 3 mil e R$ 10 mil, ou seja, da classe média. Até o dia 4 de junho, essas famílias vão trabalhar para recolher impostos para o governo. E do dia 5 de junho até 25 de setembro, o salário será usado para pagar serviços essenciais. Conclusão: são 268 dias trabalhando literalmente para o Fisco.
Outro dado do estudo é que o brasileiro da classe média precisa trabalhar 48 dias somente para pagar a mensalidade de uma escola particular. Para dar conta das despesas médicas, são mais 40 dias de labuta.
Já as famílias com renda inferior a R$ 3 mil levam 41 dias para pagar por serviços que, em tese, o governo deveria oferecer. Aquelas com rendimento mensal superior a R$ 10 mil precisam de 116 dias. Em média, o levantamento aponta que o brasileiro precisa trabalhar 59 dias só para pagar pelos serviços essenciais.
Serviços – Segundo o presidente do IBPT, Gilberto Luiz do Amaral, a classe alta gasta mais para garantir segurança e previdência privada. São 27 e 16 dias, respectivamente, enquanto a classe média trabalha 16 e 8 dias para pagar por esses serviços. Os gastos com saúde são praticamente os mesmos, mas a classe média tem que trabalhar mais tempo (40 dias) que a alta, por causa do rendimento dessa última (33 dias).
Além dos serviços privados, a classe média trabalha mais 155 dias para recolher impostos. Em média, o brasileiro gasta os primeiros 145 dias do ano, ou até a próxima quinta-feira (25), só para pagar tributos. “É o dia da alforria”, afirmou o presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Guilherme Afif Domingos. “Mas a escravidão só acaba de fato no dia 25 de setembro, quando terminamos de pagar pelos serviços bitributados. Pagamos duas vezes pelos mesmos serviços.”
Na década de 1970, trabalhava-se, em média, 76 dias para pagar tributos. “Isso significa que se trabalha mais para ter a mesma tributação e serviços mínimos decentes”, afirmou Amaral, do IBPT. Para chamar a atenção para a elevada carga tributária, lojas de Lajeado (RS) realizam um protesto inusitado até o dia 25 de maio: vendem de tênis a geladeiras com desconto de até 56%.