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Brasileiros pagam R$ 64 bilhões de juros

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Nunca o brasileiro gastou tanto com juros como hoje. Entre outubro de 2004 e setembro deste ano, foram R$ 64,5 bilhões, equivalente a 3,4% do Produto Interno Bruto (PIB), só de juros para bancos, financeiras e operadoras de cartão de crédito, revela um estudo inédito da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP). É a maior cifra desembolsada pelas famílias em cinco anos pelo direito de financiar gastos e comprar a prazo.

O gasto com juros tira quase um mês por ano da renda de 48 milhões de famílias ou de 183 milhões de brasileiros”, compara Altamiro Carvalho, assessor econômico da Fecomércio e responsável pelo estudo realizado em conjunto com Fábio Pina, também assessor econômico da entidade. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2004 indicam que a renda mensal das famílias brasileiras soma R$ 69 bilhões.

Entre 2004 e 2005, o gasto com juros aumentou R$ 13,9 bilhões. Desse total, R$ 12,3 bilhões decorrem do crescimento do volume de crédito ao consumidor com recursos livres dos bancos captados no mercado. Em dezembro de 2004, esse saldo estava em R$ 113,2 bilhões. Em setembro deste ano, atingiu R$ 148,5 bilhões.

A diferença de R$ 1,6 bilhão para totalizar R$ 13,9 bilhões de juros reflete a subida da taxa básica de juros, a Selic, diz Carvalho. A Selic começou a subir em setembro de 2004 e tem impacto no custo efetivo do dinheiro. Em setembro de 2004, a taxa básica de juros estava em 16,25% ao ano e hoje, em 19%.

“Cada ponto porcentual de alta na taxa Selic custou cerca de R$ 500 milhões em juros para a população. É o efeito Meirelles”, diz Carvalho, fazendo menção à política monetária austera comandada pelo presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, nesse período.

O estudo da Fecomércio foi elaborado a partir dos números do BC, levando em conta a taxa de juros média e efetiva cobrada do consumidor, de 64,9% ao ano até setembro. O economista ressalta que essa taxa inclui todos os financiamentos – do cheque especial, que responde por quase a metade das operações de crédito de pessoas físicas e cuja taxa gira em torno de 8% ao mês ou 160% ao ano, ao financiamentos com desconto em folha de pagamento, nos quais os juros mensais correm na casa de 1%.

O espetacular desempenho dos juros explica, em parte, o lucro recorde dos bancos, observa Carvalho. Os lucros estampados nos balanços do terceiro trimestre dos grandes bancos mostram que o resultado veio do crédito ao consumidor, afirma o vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira.

Entre outubro de 2004 e setembro deste ano, a taxa média de juros ao consumidor subiu 1,7 ponto porcentual, acima da alta do custo de captação (0,70 ponto), segundo levantamento da Anefac. “Em 12 meses, a taxa ao consumidor subiu mais que o custo efetivo de captação e o spread “, observa Ribeiro de Oliveira.

Na sua opinião, esses números mostram que não basta baixar a taxa Selic para reduzir os juros ao consumidor. Ele ressalta que é preciso reduzir o spread, que é a diferença entre o custo de captação do dinheiro pelas instituições financeiras e a taxa cobrada do consumidor pelos empréstimos.

Ribeiro de Oliveira pondera que o spread caiu cerca de 40 pontos porcentuais em seis anos. Em setembro deste ano estava em 46,9% e era de 87,7% em setembro de 1999. “O spread baixou, mas ainda é muito alto.”