Aperto além da medida
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Economia para o pagamento de juros supera em R$ 3,8 bilhões meta para 2005 e superávit primário bate 6,1% do PIB
Silmara Cossolino
BRASÍLIA – Se a elevação do aperto fiscal em 2006 para 5% do Produto Interno Bruto (PIB) divide integrantes do governo, na prática, o esforço já ultrapassou, e muito, o motivo da discórdia. Em nove meses, a economia para pagar juros já superou toda a meta estabelecida para o ano. Entre janeiro e setembro, o superávit primário do setor público totalizou R$ 86,50 bilhões, o equivalente a 6,1% do Produto Interno Bruto (PIB).
O resultado ficou R$ 3,8 bilhões acima da meta para o ano, de R$ 82,75 bilhões (4,25% do PIB). Os dados foram divulgados ontem pelo Banco Central.
– O que se tem acumulado abre margem razoável, que permite acumular um déficit mensal de R$ 1,2 bilhão ao mês até o fim do ano. Sabemos que o mês de dezembro, em particular, é um mês em que os resultados são sempre deficitários – salientou o chefe do departamento econômico do Banco Central, Altamir Lopes, tentando dissipar um possível excesso de rigidez do governo no cumprimento do esforço fiscal.
Mesmo assim, segundo ele, o governo não irá gastar à vontade a sobra de recursos acumulada até agora.
– Gastar à vontade é um termo que não se usa no trato da coisa pública com seriedade. Gastaremos com parcimônia – ponderou.
De acordo com pesquisa feita semanalmente pelo BC com analistas do mercado financeiro, a expectativa é que o superávit primário fique aos 4,6% do PIB. Caso a projeção se confirme, haverá, ao fim de 2005, uma folga de aproximadamente R$ 6,8 bi.
Ainda assim, o ajuste, mais uma vez, não foi suficiente para compensar todos os gastos públicos com juros: nos primeiros nove meses do ano, os encargos financeiros somaram R$ 120,14 bilhões.
O Governo Central – Governo Federal, INSS e Banco Central – foi responsável pela maior parte do esforço até agora. No ano, a União economizou R$ 53,46 bi, seguido dos governos regionais (R$ 19,05 bi) e estatais (R$ 13,98 bilhões).
Mesmo com o esforço recorde, a relação entre a dívida pública e o PIB manteve-se em linha com o resultado do início do ano, aos 51,4%.