A vez das pequenas
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Por Daniele Camba De São Paulo
Um movimento prolongado de alta dos principais índices da bolsa brasileira geralmente é sustentado pela valorização das ações de grandes companhias. Foi exatamente isso que aconteceu na Bovespa nos últimos três anos. Para 2006, o que deve contribuir para o bom desempenho do mercado acionário são os papéis de empresas menores e que normalmente têm liquidez mais baixa – as chamadas “small caps” ou de segunda linha.
Para se ter uma idéia do nível de atratividade das “small caps”, o crescimento médio da geração de caixa (Ebitda) das empresas de menor porte nos próximos dois anos é de 20%, estima o estrategista da Corretora Unibanco Sérgio Goldman, enquanto que a média do mercado é de 12%.
O grande fluxo de estrangeiros – até dia 13, o saldo desses investidores na Bovespa era de R$ 1,170 bilhão no mês – contribuiu para a valorização dos papéis das grandes empresas, já que são essas ações que esses aplicadores costumam comprar. Para as de segunda linha, os benefícios desse movimento estão apenas começando.
Levantamento da consultoria Economática a pedido do Valor mostra que uma série de empresas atingiu no ano passado o máximo de seu volume médio diário de negócios. Um bom exemplo são as ações preferenciais (PNs, sem direito a voto) das Lojas Americanas que negociaram o ano passado, em média, R$ 6,7 milhões ao dia, um aumento de 265% frente ao ano anterior. Há uma série de outras recordistas. As PNs da Randon Participações registraram aumento de liquidez de 148%. Já Ipiranga Refinaria PN teve um acréscimo de 130%. As preferenciais da Confab tiveram um crescimento de 103% no volume médio negociado.
Os números não são desprezíveis. De uma maneira geral, só em 2005, houve um aumento médio de 335% no volume diário de negócios nas ações que negociam abaixo de R$ 10 milhões e acima de R$ 10 mil por dia.
Além do potencial natural de valorização, os analistas acreditam que os papéis de menor liquidez devem ser as principais beneficiadas pelo crescimento econômico. “Historicamente, as empresas de menor porte são as que mais ganham com o crescimento da economia”, diz Bruno Padilha, diretor da Corretora Unibanco.
O raciocínio é simples: exatamente por serem pequenas, elas acompanham o movimento da economia mais rapidamente e numa intensidade maior que as grandes. Já em setores conhecidos por terem ações altamente líquidas, como telefonia fixa, energia e siderurgia, as companhias são maduras e, por isso, têm potencial mais limitado de crescimento, diz Goldman, da Corretora Unibanco. “O mercado sempre premiou as empresas de crescimento, nos últimos anos isso mudou por causa do desempenho ruim da economia”, diz. “Agora, com as perspectivas positivas para o PIB, o mercado retoma seu curso normal.”
Para o diretor de investimentos da Fundação Cesp, Jorge Simino, o cenário será ainda mais positivo para as pequenas empresas nos próximos anos se o Brasil realmente engatar uma expansão econômica média acima de 4%. “Quanto maior e mais consistente for o crescimento, mais irá se refletir nas vendas das empresas.”
Com exceção da AmBev, as empresas ligadas ao varejo e ao consumo – que devem ser muito beneficiadas pelo crescimento – são todas consideradas “small caps”. Além da expansão, a onda de aberturas de capital também contribuiu para as pequenas entrarem no radar, inclusive dos estrangeiros, que sempre foram avessos a papéis que negociam abaixo de US$ 1 milhão ao dia.
Com exceção de Gol, Natura e TAM, as companhias que estrearam na bolsa ainda são relativamente pequenas. “Os lançamento de ações ensinaram o estrangeiro a olhar para as small caps”, diz Padilha, da corretora do Unibanco. Esse interesse maior deve criar um ciclo virtuoso: com maior demanda, os papéis devem entrar nos principais índices da bolsa, impulsionando ainda mais a procura dos investidores que usam esses indicadores como referência.
Mas os analistas lembram que é preciso fazer uma seleção criteriosa. Primeiro porque algumas ações têm liquidez muito baixa – o que dificulta muito na hora de vendê-las. Além disso, alguns papéis já subiram bastante, antecipando o movimento, e agora apresentam um potencial menor de alta.
As ações ordinárias (ONs, com direito a voto) da Guararapes, por exemplo, subiram 249,89% no ano passado e as da Alpargatas, 130,74%. Alguns papéis, lembra Simino, da Fundação Cesp, estão com a relação Preço/Lucro (P/L, que dá uma estimativa do número de anos para se ter retorno com a alçai) mais que o dobro do de empresas como Petrobras e Vale.